Título: Joaquim Levy pode deixar Tesouro em abril
Autor: Lu Aiko Otta
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/03/2006, Economia & Negócios, p. B3

A reunião anual do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), nos primeiros dias de abril, poderá ser o palco do anúncio oficial da saída do secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, do Ministério da Fazenda.

Nos bastidores do governo, está certo que ele será o próximo vice-presidente do BID. Substituirá o economista e ex-ministro João Sayad. A questão, segundo técnicos, não é mais se Levy irá ao BID, mas quando. Sua saída da Fazenda é apenas uma questão de escolher o momento político ideal.

ESTRATÉGIA

O secretário já esteve de malas prontas para Washington em novembro passado, quando foi convidado para o posto de gerente de Planejamento Estratégico da instituição. O arranjo, segundo informaram fontes do banco na época, era que ele ficaria nesse posto, hierarquicamente inferior, até que Sayad desocupasse a vice-presidência, o que pretendia fazer em abril.

No entanto, a notícia da saída de Levy coincidiu com um momento de desgaste político do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, que perdia a queda-de-braço com a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, em torno da aceleração dos gastos. Atendendo a um pedido do ministro, Levy concordou em ficar em Brasília.

Mas os planos do presidente do BID, Luis Alberto Moreno, de levar Levy para o organismo não foram arquivados. Quando esteve com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 16 de fevereiro, ele reiterou que gostaria de ter Levy em sua equipe.

O governo brasileiro tampouco mudou de idéia. Nenhum outro nome foi indicado para o posto de vice-presidente - um cargo privativo do Brasil, segundo maior acionista do banco.

O mandato de João Sayad no BID ainda não acabou. Porém, ele ficou numa situação desconfortável depois que disputou - e perdeu para Moreno - o posto de presidente do organismo multilateral. A previsão, segundo técnicos do governo, é que ele oficialize sua saída durante a reunião anual, em Belo Horizonte.

Levy, que tem sido um intransigente defensor do cofre do Tesouro Nacional desde o início do governo Luiz Inácio Lula da Silva, tem longa experiência em organismos internacionais. Já trabalhou no Banco Central Europeu e depois no Fundo Monetário Internacional (FMI), de onde saiu para integrar os quadros do Ministério da Fazenda durante a gestão Pedro Malan, no então governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. É tido como homem de confiança de Palocci.