Título: Governo quer portos voltados para o futuro
Autor: Lu Aiko Otta
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/03/2006, Economia & Negócios, p. B5

O governo quer que os administradores dos portos olhem dez anos à frente e planejem seus investimentos. Só assim haverá garantias que eles não serão um gargalo para as exportações. Conforme mostrou o Estado em sua edição de ontem, a falta de projetos foi uma das causas do atraso na implementação da Agenda Portos - uma lista de 64 obras e ações emergenciais nos 11 principais portos brasileiros, lançada há um ano e meio. O planejamento estratégico dos portos será tema de seminário que o governo realiza entre 22 e 24 de março.

"Quando a Agenda Portos saiu, a maioria (das administrações dos portos) foi pega de surpresa porque não tinha projetos prontos", disse o presidente da Empresa Maranhense de Administração Portuária, Ricardo Zenni, responsável pelo Porto de Itaqui. Ele explicou que, no caso de Itaqui, foi necessário elaborar novos projetos. "Agora, estamos tendo um direcionamento em relação ao álcool", disse. "Precisamos atender a novas necessidades de estocagem de líquidos, como álcool e biodiesel." Além disso, aumentou a demanda por embarques de soja. Tudo isso obrigou o porto a refazer seus projetos.

O mesmo ocorreu na Bahia, que se transformou recentemente em grande produtor de soja e milho. "O Porto de Aratu precisa urgentemente de um terminal de grãos", disse o diretor-presidente da Companhia de Docas da Bahia (Codeba), Geraldo Simões. A falta de obras de dragagem nos portos baianos fez também com que o Estado perdesse exportações. A planta de celulose da Veracel, no sul da Bahia, escoa sua produção pelo Porto de Vitória, no Espírito Santo, que acomoda embarcações de maior porte. "E a fábrica é pertinho do Porto de Ilhéus", lamenta Simões.

Segundo o diretor do Departamento de Programas de Transportes Aquaviários do Ministério dos Transportes, Paulo de Tarso Carneiro, o governo estuda mudar o modelo de gestão dos portos para fortalecer a área de planejamento. "Precisamos de uma gestão mais próxima dos critérios de mercado", comentou Carneiro. Hoje, a maioria dos portos é administrada pelas companhias docas, onde há participação da União.

O seminário vai discutir também como o porto pode expandir suas atividades sem prejudicar a cidade e vice-versa. "É um relacionamento complicado", comentou Carneiro. Nas grandes cidades, um problema típico é a falta de áreas de estacionamentos para os caminhões que chegam aos portos.

Outro ponto de conflito são os acessos às áreas portuárias. Em Santos, os caminhões que se dirigem ao porto trafegam em meio a ônibus de turistas e automóveis, o que é fonte de desconforto para todos.

No porto catarinense de Itajaí, está sendo construída uma via exclusiva para caminhões, ligando o porto à BR 101. O mesmo está sendo feito no acesso ao Porto de Itaguaí (antigo Sepetiba). No Rio, governo federal e prefeitura estão em entendimentos para retirar uma favela instalada praticamente sobre a linha do trem que dá acesso ao porto.