Título: China quer reduzir ritmo de crescimento do PIB
Autor: Paulo Vicentini
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/03/2006, Economia & Negócios, p. B9

O primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, pediu ontem que a economia que mais cresce no planeta há um quarto de século reduza o ritmo de sua expansão durante o 11º Programa Qüinqüenal (2006 - 2010). Durante seu tradicional pronunciamento na abertura da reunião anual da Assembléia Popular Nacional (APN), Wen anunciou uma meta de 8% para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) em 2006 e de uma taxa média de 7,5% para os anos subseqüentes. "Para dobrarmos o PIB per capita do ano 2000 até 2010, teremos que alcançar um desenvolvimento estável e relativamente rápido, sem que as localidades persigam exclusivamente a velocidade e nem concorram cegamente entre si".

Em tese, a fala de Wen se justifica. Na avaliação do Comitê Central do Partido Comunista da China (CCPCCh), o atual modelo de crescimento adotado pela nação mais populosa do planeta é excludente.

Muito embora a China tenha galgado ao degrau de quarta economia mundial em 2005, após registrar a estonteante taxa média anual de 9,5% no crescimento do PIB nacional entre 1979 e 2005, o fosso que divide os pobres dos ricos segue se alargando.

A renda per capita alcançada nas áreas rurais, por exemplo, equivale a menos de um terço do valor de US$ 1,29 mil atingido nas zonas urbanas. Um resultado que, na prática, deixa cerca de 650 milhões de camponeses muito longe da renda per capita almejada para 2010: US$ 1,7 mil. "É um cenário potencialmente explosivo", avaliam os membros da nova esquerda chinesa, corrente com grande trânsito político e intelectual junto ao atual governo.

O anúncio da meta de expansão do PIB em si, contudo, não implica em nenhuma expressiva novidade tanto para os chineses quanto para os observadores estrangeiros. Há pouco mais de dois anos, em meio às fortes especulações internacionais sobre um provável "pouso forçado" da economia chinesa - Wen fixou a meta de 7% para o crescimento do PIB em 2004. Em seguida, o governo central baixou uma série de medidas monetárias e administrativas voltadas à contenção dos investimentos fixos em setores superaquecidos como siderúrgico, automobilístico e imobiliário. Apesar da iniciativa, a economia chinesa cresceu 10,1% naquele ano e 9,9% no ano passado, segundo os dados revisados divulgados pelo Escritório Nacional de Estatísticas.

Mas, há sinais de que a história pode ser diferente nos próximos anos. Foi a primeira vez que Wen cobrou abertamente a "busca de um crescimento qualitativo" por parte dos governantes provinciais e municipais durante um discurso na APN.