Título: Com venda de livros em alta no País, Bienal espera público recorde
Autor: Carlos Franco
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/03/2006, Economia & Negócios, p. B10

Com investimento de R$ 18 milhões, dos quais R$ 2 milhões em campanha publicitária, a 19ª Bienal do Livro de São Paulo abre as portas no dia 9 e vai até o dia 19, no Parque de Exposições do Anhembi, em São Paulo. O objetivo do evento é estimular as vendas do mercado editorial, que já vêm crescendo.

No ano passado, as vendas de livros no País alcançaram cerca de R$ 2,7 bilhões - o número foi de R$ 2,5 bilhões em 2004. É um setor em expansão, apesar dos avanços das novas tecnologias. Em 2004, foram vendidos 288,6 milhões de livros no Brasil, 12,5% acima do número registrado em 2003, apesar da queda no número de novos títulos nesse período, de 2%, com 34.858 títulos editados. O que se explica, segundo o vice-presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL), Marino Lobello, pelo fato de o preço de capa de livros que lideraram a lista dos mais vendidos serem mais altos que a média.

O importante, para Lobello, no entanto, é que as editoras estão conseguindo atrair novos leitores. Hoje, o índice de leitura do brasileiro é de 1,5 livro per capita por ano, muito baixo quando comparado à média mundial de 10 livros - e que chega a 20 livros por habitante por ano em países como a França. Portanto, há um espaço de crescimento para esse mercado e o mais importante, para empresários do setor, é que o casamento entre literatura e cinema, como no caso do bruxinho Harry Potter, acaba por estimular o interesse pela leitura.

E que ninguém duvide, diz Lobello, da força do livro. A expectativa é que o número recorde de 800 mil pessoas percorram durante a feira os 57 mil m2 da área de exposição, que reunirá 320 expositores e 900 selos editoriais. Serão lançados 3 mil títulos e expostos mais de 1,5 milhão de livros. Com 310 horas de atividades culturais e 425 sessões de autógrafos, a Bienal espera provar que o livro ocupa um lugar de destaque na cultura e na vida nacional.

A Bienal também vai exibir, com muito mais força, patrocinadores. É o caso da Petrobrás, que está investindo R$ 600 mil no evento. Também patrocinam o evento a Siciliano.com; Votorantim Celulose e Papel e a IBEP Gráfica, com cotas que partem de R$ 80 mil.

O fundador e presidente da Editora Campus, Cláudio Rothmuller, reforça e garante que o livro nunca perderá seu lugar na sociedade moderna. Pelo contrário. "Algumas obras estão conquistando novos leitores pela curiosidade que despertam, como é o caso de O Código Da Vinci e da série relatando a saga do mago Harry Potter, que deflagraram uma onda de curiosidade sobre ordens religiosas e misticismo", diz. E a Editora Campus, hoje em poder do grupo holandês Elsevier, não perdeu tempo. Lança na Bienal o livro Opus Dei - os mitos e as verdades da mais misteriosa organização da Igreja Católica, do repórter John Allen Jr., um especialista no Vaticano, que entrevistou líderes da organização.

Outro lançamento no qual a Campus aposta é a série Cartas a um jovem, escrita por profissionais de diferentes áreas de atuação. Na Bienal e se valendo das eleições de outubro, a Campus lança Cartas a um jovem político: para construir um país melhor, livro escrito pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

AQUISIÇÕES

A própria Campus, fundada em 1976, é um exemplo do movimento que vem ocorrendo nas editoras brasileiras. Em 2002, com a aquisição das editoras Negócio e Alegro, formou o Grupo Editorial Campus, empresa que hoje pertence à Elsevier, que as transformou em selos do grupo. "Esse movimento garante novos lançamentos e uma renovação dos catálogos", diz Rothmuller, que de controlador passou a executivo do negócio.

Em julho, dois grandes negócios no mercado editorial foram anunciados: a venda de 75% da Editora Objetiva para o grupo espanhol Prisa-Santillana e a compra de metade da Nova Fronteira pela Ediouro. Um movimento que, segundo analistas do mercado, não vai parar. A editora americana Thomas Nelson, líder em publicações evangélicas nos Estados Unidos, já avisou que desembarcará no Brasil para verificar, na Bienal, novas possibilidades de negócios.

Fabricantes de papel, como a VCP, do Grupo Votorantim, também fazem previsões otimistas. A empresa estima um crescimento em torno de 100% nas vendas de papel para o segmento de livros didáticos em 2006. A expectativa é que o mercado comercialize mais de 60 mil toneladas de papel neste segmento, o que corresponde à produção de mais de 130 milhões de livros.

"O incremento nas vendas de livros deverá ocorrer por conta das aquisições que o governo federal irá realizar para os seus três programas nacionais de livros didáticos", conta Sérgio Vaz, diretor de Negócios de Papel da VCP. O que também estimula novas editoras a lançar livros, de didáticos a românticos e esotéricos.