Título: Empresa pode passar de fabricante a distribuidora
Autor: Vera Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/02/2006, Economia & Negócios, p. B7

Exportações caem em janeiro e setor calçadista já apela à produção externa para garantir contratos

A movimentação das empresas para manter mercados conquistados, embora discreta, até por questões estratégicas, é visível na avaliação do diretor executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) , Heitor Klein: "Se for necessário a empresa deixa de produzir para se tornar distribuidora e assegurar mercados". E a desvalorização do dólar, observa, tem pesado muito nessas decisões.

Durante o ano passado mesmo com a perda de encomenda de pares no mercado externo, as empresas brasileiras conseguiram equilibrar o faturamento com o aumento do preço médio do sapato e terminaram 2005 com crescimento de 4% na receita. Mas no início deste ano a situação já mudou. O setor calçadista brasileiro faturou US$ 141 milhões com a exportação em janeiro, o que representa uma queda de 7% em relação a janeiro do ano anterior, quando alcançou vendas de US$ 151 milhões.

"A situação está tão ruim que não conseguimos nem repassar o custo real para o sapato", diz o presidente da Abicalçados, Elcio Jacometti. Daí os olhos dos fabricantes se voltarem para outros países. A Azaléia, especializada em calçados femininos , perdeu 25% das vendas em volume no último ano e mais 20% só entre janeiro e fevereiro nas exportações. No fim do ano, a empresa já havia contratado uma empresa chinesa para fabricar 60 mil pares de sandálias que foram exportadas para os Estados Unidos .

"Não teve jeito, mas não queríamos perder um mercado de milhões de dólares onde estamos há 12 anos", diz o gerente de marketing da Azaléia, Paulo Santana. Ele receia que, se não houver uma mudança do cenário cambial entre 60 e 90 dias, a empresa tenha de recorrer novamente ao mercado asiático para se manter competitiva.

A Dumond, marca da Paquetá, com sapatos no mercado externo entre US$ 100 e US$ 400, não fala em mão-de-obra estrangeira para baratear seus custos. Mas tem reforçado suas linhas fashion, onde o destaque são as últimas tendências da moda para conseguir preços mais favoráveis no exterior.

A Marisol já desembarcou na Itália. Não apenas com sapatos infantis, mas com sua grife de roupas Lilica Ripilica para meninas com um projeto de internacionalização de marca envolvendo um investimento de US$ 5 milhões para este ano e o próximo. A empresa abriu um escritório em Galarappe, próximo a Milão, tem representantes comerciais e planeja abrir duas lojas com sua marca este ano. A primeira, piloto, será aberta em abril em Nápoles e a outra em Milão, em junho.

"Queremos vender o conjunto completo, que destaca mais a marca do que um ou outro produto", diz o gerente de exportação da Marisol, Robson Amorim. Para complementar coleções, a idéia é importar peças da China.