Título: Brasileiro leva 'know-how' à China
Autor: Vera Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/02/2006, Economia & Negócios, p. B7

Gaúcho foi contratado por chineses para ensinar como fazer calçados

O convite para ir à China veio de uma companhia americana de exportação, há quatro anos. O técnico brasileiro, Leandro Carlos Scholles, hoje com 33 anos, formado pelo Senai em modelagem e desenvolvimento de calçados, não hesitou. No dia a dia, Scholles, que mora em Dois Irmãos (RS), iria ensinar para os chineses o processo de criação de um calçado, por um salário em torno de US$ 4 mil . "Era três vezes mais do que eu ganhava aqui e valeu a pena."

Durante dois anos ele viveu na cidade de Guangzhou, a cerca de 150 quilômetros de Hong Kong, junto com a mulher, e trabalhou ao lado de nove brasileiros. A companhia preparava amostras de calçados femininos, infantis e uma pequena parte de masculinos para compradores internacionais. Mesmo sendo estrangeiro, o ritmo de trabalho era puxado. "Nos meses de entrega de coleções não havia fim de semana. Só no mês seguinte, quando a solicitação era menor, era possível tirar algumas folgas", diz. Mesmo assim, distante do ritmo dos trabalhadores chineses que, segundo ele, trabalham muito e vivem em alojamentos nas empresas, onde tomam café da manhã, almoçam e jantam. "É uma dedicação integral e o salário não passa de US$ 80", conta.

Da experiência, Scholles diz ter aprendido que a China tem todas as condições para abocanhar o mercado internacional. "Eles são imbatíveis em cópia e já trabalham com materiais melhores", diz, "Não podemos nos iludir." Depois que voltou ao Brasil, ele já recebeu dois convites para retornar à China, mas não quis. "Hoje pagam muito menos e não compensa."

Uma joint venture da empresa exportadora de couro onde trabalha com outra empresa chinesa permitiu que Junior Kraemer, de Novo Hamburgo (RS), passasse 3 meses e meio, no ano passado, no sul da China, onde estão as cidades de Dongguan e Guangzhou, onde vivem cerca de 1,5 mil brasileiros. Sua função era ensinar os chineses a trabalhar com novas matérias-primas. "O que mais vi lá foram empresas americanas, mas as brasileiras também começam a aparecer."