Título: Proteção aos motoboys
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Fonte: O Estado de São Paulo, 07/03/2006, Notas e Informações, p. A3

A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) quer reduzir a macabra progressão do número de mortes de motociclistas em acidentes no trânsito de São Paulo. No ano passado, o total de ocorrências foi 40% maior do que o registrado em 2004. Morrem, em acidentes de trânsito em São Paulo, em média, 23 motociclistas por mês. Campanhas de conscientização, a criação de faixas exclusivas para motos e a proibição desses veículos nas pistas expressas das Marginais do Pinheiros e do Tietê estão entre as medidas que a companhia tem anunciado. Falta definir quando a fiscalização capaz de coibir os abusos cometidos no trânsito pelos motociclistas será tão rigorosa quanto a que pune motoristas infratores.

O "choque de fiscalização" defendido pelo prefeito José Serra não atinge os motoqueiros. Desde 1998, o total de mortes em desastres viários em São Paulo caiu 35%, enquanto o número de motociclistas que perderam a vida em acidentes aumentou 84%, passando de 221 para 407.

Para os motoristas, a presença de fiscais com bloco de multas em punho e de equipamentos eletrônicos de fiscalização nunca foi tão perceptível. Diante da malha viária saturada, a preocupação com a fluidez do trânsito e com a segurança é prioritária. Daí a permanente preocupação com a fiscalização.

Estranha-se, porém, que o mesmo método e rigor não sejam aplicados para reduzir os acidentes e mortes entre os motociclistas que, em geral, agem com imprudência.

São os donos das ruas, não respeitam regras básicas para a boa condução dos veículos, arriscam a própria vida e a dos outros, além de, em gangues, ameaçarem motoristas que queiram mudar de faixa ou que se irritam diante de mais um retrovisor quebrado por aqueles que insistem em passar entre os corredores cada vez mais estreitos entre os automóveis. O limite de velocidade nas vias é simplesmente ignorado pelos motoboys, muitos dos quais trabalham em condições que deveriam despertar a atenção do Ministério Público.

É evidente a relutância das autoridades em incluir os motoboys entre os alvos dos agentes de fiscalização. Muito menos se dispõem a fazer cumprir as novas normas de organização do motofrete. Em outubro, a Prefeitura anunciou que fiscalizaria, a partir de dezembro, o cumprimento das regras do Decreto 46.198. Empresas de entregas rápidas e motoboys deveriam se cadastrar. Dos 120 mil motoboys, apenas 20% cumpriram as exigências.

Além do cadastro, os motociclistas deveriam receber treinamento de condutores, seriam obrigados a usar acessórios e equipamentos de segurança. Aos poucos, porém, a Prefeitura afrouxou as exigências e a maioria dos motoboys não fez o recadastramento. O Departamento de Transporte Público (DTP), municipal, culpa a Polícia Militar pela demora na assinatura do convênio que asseguraria blitze conjuntas. Já a PM assegura que basta ser chamada para a fiscalização, que comparecerá.

Tudo igual ao que ocorreu nas duas últimas administrações. Em vez de regulamentar a atividade e fazer cumprir as normas de segurança, as autoridades criam meias-medidas. Assim, não entram em confronto com os motoboys e, para a sociedade, passam a idéia de que não abandonaram a questão. Agora, além das motos em alta velocidade, circulam idéias como a instalação de faixa exclusiva para motos e a proibição da circulação pelas pistas expressas das Marginais - como se isso bastasse para organizar uma atividade que inferniza o trânsito paulistano.

Em entrevista ao Jornal da Tarde, o presidente do Sindimoto, Aldemir Martins, disse que acha "ótima" a criação de faixa exclusiva nas Marginais, mas não admite a proibição da circulação de motos nas pistas expressas. A categoria não admite limites porque sempre desafiou e venceu as autoridades. A instalação do corredor para as motos provocará redução da largura das demais faixas, aumentando os riscos para todos os usuários. Como afirma o presidente do Sindimoto, corredores estreitos entre os carros são "um desafio para a adrenalina" dos motoboys. A insegurança será ainda maior nas Marginais.