Título: Só cinco setores puxaram 80% do crescimento da indústria em 2005
Autor: Marcelo Rehder
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/02/2006, Economia & Negócios, p. B1

Avanço de 3,1%, considerado medíocre, veio de quem conseguiu escapar dos juros altos e valorização do real

Somente cinco setores garantiram o crescimento medíocre da indústria brasileira no ano passado. De acordo com o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), veículos automotores, indústrias extrativas, material elétrico, aparelhos e equipamentos de comunicação, farmacêutica e edição, impressão e reprodução de gravações responderam por 80% do crescimento da produção industrial em 2005 - de 3,1%.

"Quem diria, o que salvou a indústria no ano passado foram setores de tecnologia de ponta, que normalmente atuam como coadjuvantes das indústrias tradicionais, como têxteis, vestuário, calçados e alimentos", diz Júlio César Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi, responsável pelo estudo. "Se não fosse o bom desempenho desses setores, o crescimento teria sido ainda mais medíocre, inferior a 1%".

Para chegar a essas conclusões, Almeida se baseou em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ponderados pela participação de cada um dos 27 setores pesquisados no total da produção industrial do País. Segundo ele, a característica comum dos cinco principais setores, cuja participação conjunta no total da produção industrial se aproximou de 25%, é o fato de terem conseguido escapar da influência dos juros altos e da elevada valorização do real frente ao dólar, que afetaram negativamente quase todos os outros ramos.

Em 2004, os cinco setores que puxaram a produção responderam por 57% do crescimento da indústria. Para este ano, a expectativa do Iedi é de que o crescimento da produção seja pouco maior, entre 3,5% e 4%, e menos concentrada em poucos setores. "Depende da política de redução dos juros e dos efeitos sobre o câmbio".

No caso da indústria automobilística, o que determinou o crescimento de 6,8% na produção no ano passado foram a forte expansão de modalidades de crédito mais baratas, as inovações como o automóvel bicombustível e o bom desempenho das exportações. "O crescimento do mercado interno surpreendeu, pois tínhamos uma expectativa de evolução de 5% e o resultado final ficou em quase 9%", diz José Carlos Pinheiro Neto, vice-presidente da General Motors do Brasil.

Para o executivo da GM, ficou provado que há uma demanda reprimida no mercado brasileiro, cujo pico se verificou em 1997, com 2 milhões de veículos vendidos. No ano passado, foram licenciados 1,715 milhão de automóveis nacionais e importados. "Temos um grande potencial de crescimento e uma indústria instalada com capacidade de produzir 3,5 milhões de unidades por ano, incluindo os veículos prontos e CKD (completamente desmontados)".

O segmento mais dinâmico no grupo denominado material elétrico, aparelhos e equipamentos de comunicação (evolução de 14,2%), foi o de aparelhos celulares. Nesse caso, também pesou a inovação tecnológica, além das facilidades de venda (pré e pós pago) e de financiamento. "Fechamos o ano com um total de 3,4 milhões de aparelhos vendidos no mercado brasileiro, 50% a mais do que em 2004", afirma Carlos Melo, diretor da área de celulares da LG.

A empresa coreana investiu US$ 60 milhões na construção de cinco linhas novas de produção na unidade de Taubaté (SP), das quais duas são de produtos com tecnologia GSM, que não eram fabricados localmente pela LG. Com isso, a capacidade de produção total saltou de 250 mil para 500 mil celulares por mês. A previsão para este ano é montar entre 6,3 milhões a 6,5 milhões de aparelhos, o que representaria expansão de 85% a 90% em relação a 2005.

"O mercado de usuários de celulares já não cresce na mesma proporção da venda de aparelhos. Hoje, quase 50% da população brasileira tem celular, o que é bastante bom, levando-se em conta que na Europa esse número está na casa de 70%. O mercado passa a ser de trocas e o que atrai o consumidor é a tecnologia e os novos serviços oferecidos pelas operadoras".

Para o do diretor do Iedi, o crescimento de 11,6% obtido pelo setor de edição, impressão e reprodução de gravações e de 14,6% do farmacêutico pode ser explicado pelo atraso na recuperação a pós crise de 2003. "Os brasileiros decidiram retomar antes o consumo de outros bens, como alimentos".

A Eurofarma Laboratórios duplicou a equipe de vendas na área de propaganda médica, de 300 para 600 propagandistas em 2005. Em janeiro deste ano, mais reforço na equipe, que passou a contar com 900 pessoas. "A área de prescrição médica foi a que mais cresceu na empresa, com incremento de quase 30% em comparação com 2004", afirma Maria Del Pilar Muñoz, diretora de Marketing Corporativo do laboratório.

Levantamento do Grupo dos Profissionais Executivos do Mercado Farmacêutico (Crupemef) mostra que a Eurofarma vendeu 46,263 milhões de unidades no ano passado, 10,32% a mais do que em 2004. Na divisão de prescrição médica, o crescimento foi de 27%. Entre os principais medicamentos do laboratório estão os antibióticos Astro e Benzetacil, o antidepressivo Pondera e o anticoncepcional Tâmisa. A empresa quer crescer 10% neste ano.

Na indústria extrativa, o crescimento de 10,2% foi liderado por petróleo e ferro. Para o Iedi, a produção nesses segmentos foi impulsionada pela forte demanda externa e preços favoráveis de exportação. No caso do petróleo, o aumento da produção também tem a ver com a decisão da Petrobrás de obter auto-suficiência este ano. Destaque à produção de máquinas para escritório e equipamentos de informática, cuja taxa de crescimento em 2005 chegou a 17,32% - a maior no período. Porém, o setor tem peso de 1% na estrutura industrial do País.