Título: Escolha leva em conta até peso que o PFL terá no Estado
Autor: Expedito Filho e Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/03/2006, Nacional, p. A4

À medida que os dias passam, a escolha do candidato presidencial aumenta a ansiedade do universo tucano e gera raciocínios cada vez mais tortuosos. Entre os cardeais do tucanato a avaliação é de que a candidatura de Serra se tornou um jogo de tudo ou nada; embora ele seja o candidato mais conhecido dos eleitores brasileiros, cresce a convicção de que a sua eventual derrota significaria um duplo desastre.

Por um lado, os tucanos dariam ao PFL a chance de montar, a partir de São Paulo, uma estrutura político-eleitoral vigorosa, ganhando 2 anos e 9 meses na Prefeitura e 9 meses no governo estadual. Por outro, correm o risco de perder para o PT. Já uma eventual derrota de Alckmin ocasionaria perda mínima, pois o partido manteria a Prefeitura e ainda seguiria competitivo nas disputas estadual e presidencial.

Um integrante da cúpula do partido admitiu ontem que ¿a bola ainda está com Serra¿, mas deixou claro que nos últimos dias a candidatura de Alckmin ganhou fôlego. Entre os partidários de um e outro há nítida diferença de ânimo. Os alckmistas estão mais acesos do que nunca e acham que estão com a mão na taça; os serristas se mostram cada vez mais contaminados pelo temor de correr riscos que aparentemente desnecessários.

Serra tem ouvido de alguns de seus aliados que, se optar por continuar na Prefeitura, pode concluir realizações consagradoras. Um deles lembrou a Serra o papel de François Mitterrand, que é mais lembrado pelas sete obras que criou em Paris ¿ entre elas, a Biblioteca Nacional, o Museu d¿Orsay e a pirâmide de cristal do Louvre ¿ do que por suas decisões na Presidência. E aconselhou o prefeito a embarcar em seu projeto de mudar a face de São Paulo, o que lhe daria um reconhecimento definitivo.

FALSA CERTEZA

Ontem um serrista dizia que o cenário em que Serra vencerá Lula é ¿uma certeza falsa¿ e não pode, portanto, justificar o sacrifício de deixar a Prefeitura antes da hora. Mas a parte mais calculista do raciocínio que está tomando os tucanos é que o PSDB, em caso de uma derrota, restaria esfrangalhado em São Paulo, cidadela fundamental para o partido desde a fundação.

O raciocínio vai mais além. Os tucanos têm plena confiança no vice de Alckmin, Cláudio Lembro, que herdará o governo estadual, mas acham que Gilberto Kassab, o vice de Serra, é ¿um operador¿ político e transformaria a Prefeitura numa alavanca para catapultar o PFL em São Paulo, à revelia e à custa do PSDB.

Agora, cabe a Serra o primeiro lance: decidir se é ou não candidato. Alckmin joga com o tempo, com as hesitações crescentes do grupo serrista e com o desgaste do prefeito com tanta demora em decidir-se. Ontem, um serrista convicto opinou que a demora está ¿desconstruindo a imagem¿ que o prefeito formou com a vitória para a Prefeitura de São Paulo.

Pedir uma solução aos dois litigantes, segundo um dirigente, foi uma decisão inteligente porque os obriga a dar forma final ao ¿abraço de afogados¿ em que eles estavam engalfinhados. Por mais que tenham brigado, a solução dada pelos dois já representará um avanço na manutenção da união partidária.