Título: Inspirado em Covas, FHC pede unidade partidária
Autor: Expedito Filho e Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/03/2006, Nacional, p. A4

As homenagens ao ex-governador Mário Covas foram transformadas em palco da disputa interna do partido em torno da sucessão presidencial. De um lado, o prefeito José Serra e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso evocaram a memória de Covas para cobrar unidade do partido. Já o governador Geraldo Alckmin, estrela da noite, apresentou uma plataforma de governo, ¿inspirada¿ nas ações do governador falecido há cinco anos.

Dono do discurso mais bem-humorado do evento tucano, ontem à noite na Sala São Paulo, o ex-presidente Fernando Henrique assegurou que qualquer que seja o candidato tucano à sucessão de Lula haverá um PSDB unido. A Lula e aos petistas, mandou um recado, sem citar os adversários nominalmente. ¿Não temos medo de comparação. Muito menos no plano da honra¿, discursou, rebatendo as declarações do presidente Lula e de seus aliados de que a campanha pela reeleição será pautada pela comparação entre os quatro anos do governo petista e os dois mandatos de FHC.

Ao falar sobre o momento político pelo qual passa o PSDB ¿ a demora para definir entre Serra e Alckmin ¿, Fernando Henrique avisou que não existe política sem coragem e lealdade. ¿Não se constrói uma relação política sem lealdade. Não se constrói nada em política sem ousar. Há um momento em que tem que ousar¿, observou. Em seguida, recorreu à Mário Covas, para enfatizar a convicção de que lealdade é palavra-chave nesse processo. ¿Lealdade igual à do Mário é raríssima.¿ Firme, o ex-presidente ressaltou que o PSDB, ¿unido na lealdade e na coragem¿ enfrentará a disputa em outubro próximo. Na mesma linha de Serra, que falara pouco antes dele, Fernando Henrique avisou: ¿Os que apostam na especulação vão quebrar a cara.¿ Arrancou aplausos entusiasmados.

Outras tantas palmas calorosas foram dadas quando Fernando Henrique mencionou que ¿o futuro presidente¿ estava ali, na Sala São Paulo. Sentados na mesma fila, porém não lado a lado ¿ Serra estava ao entre os pefelistas Claudio Lembo (vice-governador) e o presidente da Assembléia, Rodrigo Garcia, e Alckmin ao lado da viúva de Covas, Lila, e de sua mulher, Lu Alckmin ¿ os pré-candidatos tucanos ouviam atentamente.

No evento organizado pelo Palácio dos Bandeirantes, o prefeito José Serra fez o discurso mais diplomático e mais emocionante da noite. A despeito da platéia amplamente favorável a seu concorrente, o prefeito acabou aplaudido. E de pé. Serra afirmou que o PSDB sofre hoje ¿ataques especulativos¿. ¿Muitos se dedicam a ataques especulativos contra a unidade do PSDB e a sua clareza de propósito¿, disse para, em seguida, afirmar: ¿Perderão todos aqueles que apostarem no desentendimento, no confronto, na cizânia e na falta de unidade¿. Por fim, advertiu que tudo isso é caminho contrário a Mário Covas e à trajetória dele.

Alckmin fez o último e o mais técnico discurso da noite. Concentrado em um balanço das realizações do governo Covas-Alckmin, apresentou uma plataforma para o Brasil como continuidade desse trabalho. ¿Precisamos reconquistar para o Brasil um Estado voltado para o bem comum¿, pregou. À saída, questionado sobre os discursos de FHC e Serra, o governador disse que partido sairá unido.