Título: Delegado diz que entregará 'provas cabais' contra Palocci
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/03/2006, Nacional, p. A8

Benedito Antonio Valencise, delegado seccional da Polícia Civil em Ribeirão Preto, vai à CPI dos Bingos nesta quinta-feira para depor e entregar aos senadores documentos que, segundo ele, "são provas cabais" de suposto esquema de corrupção, superfaturamento, peculato, sonegação "e outros crimes" na administração municipal, período 2001/2004 - gestão Antonio Palocci, hoje ministro da Fazenda, e seu sucessor, Gilberto Magionni.

"Vou levar cópias dos principais documentos e mostrar tudo o que tem no inquérito", disse Valencise. "Eu não sou testemunha dos fatos, mas sou testemunha do que foi apurado. Vou à CPI para esclarecer tudo o que for necessário." Sobre o que dirá de Palocci à comissão de inquérito, o delegado observou: "Quem acompanhar meu depoimento verá."

As provas, informa o delegado, "atingem a gestão dele (Palocci) como prefeito e quem o substituiu". Ele ressalva que não pode indiciar o ministro nem tem autoridade legal para isso. A competência para investigar ministros é do Supremo Tribunal Federal.

"Eu não tenho nada a ver com o ministro, nem posso ouvi-lo, eu estou falando do prefeito e daquilo que foi apurado sobre atos ocorridos em sua gestão", anota Valencise, 30 anos de carreira. "As provas são claras, são evidentes. Temos falsificação de documentos. Documentos foram apreendidos. Temos provas de que expediram certidões e relatórios para justificar varrição que não era feita. Aí a prefeitura pagava valores exorbitantes. O dinheiro saía dos cofres públicos. O rastreamento mostra que parte desse dinheiro ia para um partido. Não vou dizer o nome do partido, mas falo sem medo de errar: de 3 partes do contrato, duas eram ilegais."

ROMBO

Palocci foi prefeito de Ribeirão pelo PT entre 2001 e 2002, quando deixou o cargo para assumir a coordenação da campanha de Lula à Presidência. "O rombo mesmo, ou melhor o roubo, era na varrição. Eles criaram uma tal varrição volante que nunca existiu. Vou dar um exemplo: eles registravam serviço em um bairro, mas esse bairro tal nunca foi varrido. Ouvimos os moradores. Eles disseram: 'aqui ninguém varria nada'. Então está supercomprovado. Fomos às ruas, conversamos com moradores de vários bairros. Não há como falar em perseguição política."

O delegado espera concluir até o fim de março o inquérito que incrimina a gestão Palocci e revela como eram fechados contratos e feitos os pagamentos. Ele pretende indiciar "até 7 pessoas".

Entre os papéis que compõem a investigação existem notas fiscais e livros que indicam o tamanho do rombo. A prefeitura pagava R$ 1,2 milhão por mês pela varrição.

O contrato durou 4 anos. "Isso está comprovado. Todo mês a prefeitura pagava esse valor. Um terço efetivamente correspondia a trabalho realizado. Dois terços eram referentes a serviços que não aconteceram. É só fazer o cálculo em 48 meses para apurar o prejuízo. Isso foi no contrato de limpeza em geral."

Rogério Buratti, que assessorou Palocci na prefeitura e que denunciou o ministro como suposto receptor de uma caixinha de R$ 50 mil mensais em Ribeirão, é testemunha-chave. "Ele forneceu dados muito importantes que completam a investigação", diz o delegado.

FATOS GRAVES

O relato de Valencise à CPI terá início às 11 horas. "Temos crimes de peculato, sonegação, superfaturamento, uma série de fatos graves que aconteceram. Temos documentos e depoimentos de testemunhas que comprovam tudo isso."

No relatório final do inquérito que entregará à Justiça, o chefe da Polícia em Ribeirão Preto pretende "demonstrar todas as provas, inclusive contra outras pessoas que tiveram participação". Na próxima sexta, ele vai tomar novos depoimentos, inclusive o de Wilney Barquete, ex-diretor da empresa Leão Leão, que teria sido uma das principais beneficiadas na gestão Palocci.

"Se houver comprovação do envolvimento dele (Palocci) vou enviar ao Judiciário para que encaminhe ao STF."

Os promotores de Justiça que investigam o esquema também avaliam que Palocci pode ser incriminado. "No que se refere ao ministro realmente há muita coisa que pode responsabilizá-lo."