Título: PF apura suposta cobrança de propina em Itaipu
Autor: Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/03/2006, Nacional, p. A9

A Polícia Federal enviou ontem ao Paraná o delegado Pedro Ribeiro Alves para tomar o depoimento do ex-diretor da Itaipu Binacional Roberto Bertholdo, acusado de envolvimento com o mensalão. Preso desde novembro por tráfico de influência, lavagem de dinheiro, compra de sentença e grampo ilegal, Bertholdo revelou, segundo a revista Veja, ter participado de captação de propina na estatal para distribuir ao PMDB.

A PF apurou que Bertholdo seria homem de confiança do ex-líder do PMDB na Câmara José Borba (PR), que renunciou para se livrar de processo de cassação. Ele era acusado de envolvimento com o mensalão e de comandar o caixa 2 do PMDB.

Ontem a PF também ouviu o ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia, acusado de ter entregue R$ 507 mil para o caixa 2 da campanha à reeleição ao governo de Minas do hoje senador Eduardo Azeredo (PSDB), em 2002. O ministro negou ter coordenado essa campanha e disse que nunca teve relacionamento comercial ou político com Marcos Valério de Souza, acusado de ser operador do mensalão.

Admitiu, porém, que tomou empréstimo a pedido de Azeredo, que é seu amigo, para que saldasse dívidas da campanha. Com o dinheiro, Azeredo teria pago nota promissória cobrada pelo ex-coordenador da sua campanha, Cláudio Mourão.

Por conta desses fatos de última hora, a PF retardou a entrega ao Supremo Tribunal Federal (STF) do relatório do inquérito do mensalão, que deveria ter ocorrido ontem. No texto, que deve ser entregue hoje ou amanhã, a PF pedirá mais prazo para concluir a investigação.

DEFESA

A Itaipu Binacional divulgou nota ontem negando denúncia publicada pela Veja de que seu diretor-geral no Brasil, Jorge Samek, teria cobrado propina de US$ 6 milhões para perdoar dívida de US$ 200 milhões da Voith Siemens. Classificando a reportagem de injuriosa, a nota, assinada pela diretoria da Itaipu, afirma que "não houve qualquer favorecimento ou perdão de dívida de US$ 200 milhões da Voith Siemens". Acrescenta que a Itaipu não negocia individualmente com empresas, uma vez que a decisão sobre obras está a cargo do consórcio Ceitaipú, formado por 16 empresas.

Segundo a nota, a acusação se baseia "numa suposta conversa telefônica sobre algo improcedente, que jamais se concretizou" - referência à gravação de uma conversa de Bertholdo. No texto, Samek põe à disposição seu sigilo bancário e telefônico e todas as atas das reuniões em que o assunto das multas foi tratado, "para restabelecer a verdade dos fatos".

A Itaipu informou que entrará com ação na Justiça contra a revista, para reparação dos danos causados à imagem da empresa e à de seu diretor.