Título: 'Presidente pode subir ainda mais', diz pesquisadora
Autor: Paulo Moreira Leite
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/02/2006, Nacional, p. A4

Para diretora do Ibope, medidas anunciadas por Lula ainda darão muitos frutos eleitorais

Quem acha que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já subiu muito nas pesquisas deve conviver com a idéia de que ele pode crescer ainda mais. "O presidente pode ampliar a vantagem nos próximos meses", afirma Márcia Cavallari, diretora do Ibope. Ela recorda que muitas propostas já anunciadas pelo governo - como o recapeamento de estradas, o pacote de estímulos à construção civil, as reduções no Imposto de Renda - terão outro impacto nas intenções de voto quando deixarem o plano dos projetos anunciados para se transformarem em medidas concretas.

Se a maioria dos presidentes sempre perde popularidade no 1º de maio, quando se anuncia o salário mínimo - uma eterna decepção -, Lula pode romper a tradição em 2006, diz a diretora do Ibope. "O aumento de R$ 300 para R$ 350 (que valerá a partir de abril) pode ajudar o governo", afirma, referindo-se a uma situação de menos de 6% de inflação anual.

A popularidade de Lula sobe ou desce de acordo com os humores da economia, do emprego e o salário - o que confirma a desimportância que a maioria da população atribui às disputas entre idéias e doutrinas políticas. Quem se declara eleitor de Lula admira o Bolsa Família, aplaude o ProUni e o crédito consignado.

O candidato que disputa a reeleição tem fragilidades que o concorrente de 2002 não possuía, porém. Numa pesquisa que circula pelos gabinetes de Brasília, descobre-se que, antes da crise, perto de 80% do eleitorado dizia que Lula era um político sem manchas - número que hoje caiu para menos de 50%.

O maior trunfo do candidato Lula sempre foi seu próprio mito, do operário que deixara o torno metalúrgico para sentar-se no Planalto - e jamais esquecera de sua devoção aos mais humildes. Em setembro do ano passado, quando a crise estava no auge, a credibilidade de Lula virou, diz o Ibope: 51% disseram não acreditar no presidente, contra 44% que afirmaram o contrário. Em dezembro, a maioria disse condenar "a forma do presidente Lula administrar o País".

As pesquisas de hoje, que mostram Lula na liderança, informam ainda que ele é o político que melhor compreende os mais pobres, virtude preciosa num país com as carências do nosso.

Se não há dúvida de que a publicidade pesada dos últimos meses ajudou na recuperação de Lula, a maioria dos estudiosos considera que o mensalão diminui a estatura do presidente, que hoje é visto como um político igual a seus adversários mas não pior do que eles. O argumento é que Lula se beneficia da paisagem geral de nossa vida pública e da indignação que os políticos costumam provocar no cidadão comum. Num levantamento de 2002, mas que segue atualíssimo, 55% dos eleitores concordam com a frase: "Todos os políticos roubam." Para muitos pesquisadores, essa situação pode transformar as denúncias de corrupção numa guerra de lama sem vencedores.