Título: Kirchner: 'Operação Reeleição'
Autor: Ariel Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/03/2006, Internacional, p. A13

O presidente Néstor Kirchner nega - formalmente - que pense em tentar a reeleição no ano que vem. Mas seus aliados, assessores e publicitários governistas admitem que já começaram a preparar, a todo vapor, a Operação Reeleição. Os cartazes pela permanência de Kirchner na Casa Rosada para mais um mandato já se espalham em estádios de futebol de norte a sul da Argentina. Mas a idéia é dar um grande golpe de efeito para lançar a candidatura de Kirchner, para o período 2007-2011, nos dias 24 de março e 25 de maio.

O plano consiste na realização de duas grandes manifestações - que pareçam "populares" e "espontâneas" - na histórica Praça de Maio. Na primeira data, organizações de direitos humanos, partidos progressistas, sindicatos, associações de estudantes e outras organizações realizarão manifestações em memória das 30 mil pessoas assassinadas na ditadura 1976-83. A segunda data é o dia da Revolução de Maio, de 1810, quando começou o processo de independência da Argentina.

As manifestações, que entre os organizadores têm a denominação de Praça do Sim, têm o objetivo de criar a sensação de um espontâneo respaldo "popular" ao presidente. Para isso, os assessores de Kirchner já estão mobilizando os prefeitos dos empobrecidos municípios da Grande Buenos Aires para que levem milhares de pessoas em ônibus até o centro da capital, onde, em troca do costumeiro lanche composto por um refrigerante e um sanduíche de lingüiça, gritarão o nome do presidente, agradecerão nos cartazes e faixas as benesses econômicas e pedirão que ele permaneça mais quatro anos "para completar as reformas necessárias".

O ex-presidente Carlos Menem, em 1991, recorreu a uma tática similar, quando por meio de um seguidor fanático, o jornalista conservador Bernardo Neustadt, reuniu mais de 40 mil pessoas na Praça de Maio para declarar seu apoio às radicais políticas de abertura da economia, o perdão aos militares e as privatizações que estava implementando. A peculiar manifestação, que reuniu desde o proletariado peronista até damas da alta sociedade que foram de salto alto e vison à Praça de Maio, foi chamada de Praça do Sim.

A técnica utilizada é a do fundador do partido de Kirchner, o Justicialista (peronista), Juan Domingo Perón: "Quando quiser algo em política, prepare as coisas para que as pessoas peçam isso."