Título: Crise no álcool: governo joga a toalha
Autor: Fabíola Salvador
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/03/2006, Economia & Negócios, p. B11

Aparentemente, o governo jogou a toalha e acredita que só a entrada da safra 2006/2007 de cana-de-açúcar reduzirá os preços do álcool nas usinas e nos postos. Para uma fonte do Ministério da Agricultura, "o tempo é o melhor remédio. Só a safra fará os preços recuarem". Para esse interlocutor, os preços devem começar a cair em meados de abril.

As previsões indicam valor inferior a R$ 1 por litro em abril e de até R$ 0,75 por litro no final de maio e começo de junho. Na semana passada, a cotação do álcool anidro chegou a R$ 1,17 por litro e do hidratado, R$ 1,20 em São Paulo, de acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq). No caso do anidro, que é misturado à gasolina, o governo fechou em janeiro um acordo com os usineiros para a venda do litro a R$ 1,05 nas usinas, antes dos impostos.

Depois que os empresários do setor sucroalcooleiro admitiram que o acordo não seria cumprido, o governo anunciou duas medidas para impedir a escalada dos preços. A primeira foi reduzir, a partir de 1.º de março, de 25% para 20% a mistura de álcool anidro à gasolina. A redução valerá até dezembro. Com a mudança, o governo calculou a queda no consumo para 400 milhões de litros de álcool anidro, uma economia de 100 milhões de litros por mês. A segunda foi a redução de 20% para zero da Tarifa Externa Comum (TEC) para a importação de álcool. Essa medida não tem efeitos práticos, pois não há fornecedores com capacidade de vender álcool para o Brasil. Os preços de venda ao País também inviabilizam o negociação.

Com menos álcool na gasolina, a tendência é que os preços do combustível subam. Para evitar a alta, o governo avalia reduzir a Contribuição de Intervenção do Domínio Econômico (Cide) incidente sobre a gasolina.

ALTA MENOR

A redução da mistura do álcool anidro à gasolina já surte efeito nos preços nas usinas paulistas. A opinião é da professora Miriam Bacchi, pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, da Universidade de São Paulo (Cepea/USP), ao comentar os resultados do levantamento feito entre 27 de fevereiro e 3 de março nas usinas do Estado que é responsável por 75% da produção nacional de álcool combustível.

Os preços subiram pela quarta semana consecutiva, mas os aumentos foram menores que os da semana anterior (20 a 24 de fevereiro), quando o litro do anidro subiu 7,1% e o do hidratado, 7,5%. Na semana seguinte, 27 de fevereiro a 03 de março, o anidro subiu 2,4%, de R$ 1,14934 para R$ 1,17688, e o hidratado, descontados os impostos, subiu 4,1%, de R$ 1,153 para R$ 1,20038.