Título: Perdas com a gripe aviária já chegam a US$ 10 bilhões
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/03/2006, Economia & Negócios, p. B5

A gripe aviária que está atingindo animais em mais de 30 países já está custando US$ 10 bilhões às economias dos vários continentes afetados, além de provocar um impacto na renda de cerca de 300 milhões de pessoas que vivem no campo. Os dados são da Organização Mundial da Saúde (OMS), que ontem iniciou uma reunião de três dias com técnicos de todo o mundo para elaborar um plano de contenção de uma eventual pandemia de gripe entre humanos.

Na abertura da reunião, a OMS alertou que a atual gripe que atinge as aves é "sem precedentes" e o objetivo principal da comunidade internacional é impedir que o vírus H5N1 sofra uma mutação e passe a ser contagioso entre as pessoas.

Para a OMS, se o mundo não conseguir evitar essa mutação, os governos precisam pelo menos garantir que medidas sejam adotadas para reduzir ao mínimo o número de mortos, além dos prejuízos econômicos. Até hoje, 174 pessoas já foram contaminadas pelo vírus, provocando 94 mortes. Esse índice de morbidade é extremamente alto, segundo os padrões da OMS.

Margaret Chan, principal responsável na agência de Saúde da ONU pela gripe aviária, alertou ontem aos especialistas que a atual doença representa o maior desafio já enfrentado pelo mundo em doenças infecciosas. O que a OMS teme é o fato de que, em apenas um mês, 17 novos países foram infectados pelo vírus, o que mostra que estaria ocorrendo uma aceleração da propagação da doença. "Ninguém sabe quando isso vai parar", afirmou Chan. "Temos ainda como nos proteger, mas precisamos fazer isso agora mesmo", completou.

CRÍTICAS

Já a FAO, entidade da ONU ligada à agricultura, aproveitou ontem para criticar os países ricos da Europa. Segundo a entidade, se os governos de economias ricas tivessem ouvido o apelo por ajuda e dinheiro quando o surto começou no Vietnã e no Camboja, a Europa hoje poderia estar protegida da gripe aviária.

Para Mike Ryan, também da OMS, uma pandemia nesse momento poderia provocar o "colapso" do sistema internacional, já que a maioria dos países ainda não está preparada para o pior. De acordo com o plano montado pela OMS, que será debatido até amanhã, os governos teriam de ser responsáveis por isolar áreas infectadas, deixar populações inteiras em quarentena e ainda distribuir remédios e vacinas.