Título: Sessão para convocar Duda e Dimas acaba em bate-boca
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/02/2006, Nacional, p. A4

Apesar de acordo que aprovou depoimentos, oposição acusa o governo de uso político da lista de Furnas

BRASÍLIA

Terminou em bate-boca entre governistas e oposição a sessão da CPI dos Correios que aprovou ontem a convocação do ex-diretor de Furnas Dimas Toledo e do publicitário Duda Mendonça. Dimas deverá depor na CPI na semana que vem. O novo depoimento de Duda não tem data prevista para ocorrer.

O ex-diretor de Furnas é apontado como autor da lista com o nome de 156 políticos que teriam se beneficiado de suposto esquema de caixa 2 na estatal durante a campanha de 2002. Ao lado de Duda, também serão chamados para depor seus sócios Zilmar Fernandes e Armando Correia Ribeiro.

Governo e oposição fizeram acordo para aprovar, em votação simbólica, os requerimentos com a convocação de Duda e Dimas. Apesar de haver consenso, a oposição acusou os governistas de fazem uso político da lista de Furnas. O PSDB e o PFL partiram então para o ataque e defenderam a convocação imediata do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, para explicar as investigações que estão sendo feitas pela Polícia Federal sobre a autenticidade da lista.

Já os parlamentares petistas tentaram acuar a oposição ao reivindicar a marcação imediata do depoimento do lobista Nilton Monteiro, apontado como o responsável pela entrega da lista de Furnas à Polícia Federal. No ano passado, Monteiro apresentou documentos que comprovariam a existência de caixa 2 na campanha à reeleição ao governo de Minas, em 1998, do hoje senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG). "É preciso ter um plano de investigação e, por isso, é importante que Nilton Monteiro venha depor antes de Dimas Toledo", argumentou a senadora Ideli Salvatti (PT-SC).

O presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS), repudiou a proposta dos petistas e não marcou a data do depoimento de Monteiro. A briga entre governistas e oposição na comissão passou a girar em torno da convocação de Thomaz Bastos. "Intimar o ministro da Justiça para vir aqui não é razoável. É um desrespeito até institucional", reagiu o líder do PT na Câmara, Henrique Fontana (RS), que não é integrante da CPI dos Correios, mas foi à sessão para defender o governo. "Não é o prefeito de São Paulo, José Serra, que vai definir se essa lista é palhaçada ou não."

"Penso que a lista não é verdadeira. Mas acho que o Dimas Toledo arrecadava recursos não-escriturados", afirmou o deputado Maurício Rands (PT-PE), relator-adjunto da CPI.

A oposição fez questão de bater na tecla da convocação do ministro. O PFL chegou até a reunir sua Executiva para fechar questão em torno do depoimento de Thomaz Bastos. "Repudiamos a lista de Furnas e exigimos uma manifestação do ministro da Justiça. Se isso não for feito, procuraremos o fórum adequado para chamar o ministro", afirmou o líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN). O PFL já avisou o governo de que vai propor a convocação de Thomaz Bastos na CPI dos Bingos, onde a oposição tem maioria, caso a dos Correios não convoque o ministro. A questão voltará a ser discutida na próxima sessão administrativa da CPI dos Correios, prevista para terça-feira.

PLENÁRIO CHEIO

A votação do requerimento de convocação de Dimas encheu o plenário da CPI dos Correios. Parlamentares citados na lista de Furnas, como Jair Bolsonaro (PP-RJ), Antonio Carlos Pannunzio (PSDB-SP) e o líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP), fizeram questão de acompanhar de perto a sessão. "O ministro tem de vir aqui para dizer quem são os responsáveis por essa lista. É inadmissível sermos tratados com dúvida sobre nossa integridade", disse Goldman.

"Essa lista não é verdadeira, porque meu nome está lá. Mas o ministro Thomaz Bastos precisa vir aqui para dizer que a lista é falsa", afirmou o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ), relator-adjunto da CPI.

A expectativa é de que o ex-diretor de Furnas deponha na quarta-feira. Mas a data do depoimento de Duda só será marcada depois que os integrantes da comissão tiverem acesso aos dados com a movimentação financeira do publicitário no exterior.