Título: Estatal é quase imune a controle externo
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/02/2006, Nacional, p. A4

Eletrobrás não tem como questionar decisões do Conselho de Furnas

Dona de um patrimônio líquido de R$ 12 bilhões, de acordo com balanço de setembro do ano passado, a estatal Furnas Centrais Elétricas tem investido historicamente em torno de R$ 1 bilhão ao ano. Apesar de ser uma das cinco subsidiárias do grupo Eletrobrás, a empresa mantém, ao longo dos últimos anos, um processo autônomo de decisão. A holding Eletrobrás assumiu um controle quase teórico de Furnas, sem questionamentos das decisões tomadas por seu Conselho de Administração.

Criada em 1957, cinco anos antes da fundação da Eletrobrás, Furnas administra as linhas de transmissão de energia elétrica da Região Sudeste, nove usinas hidrelétricas e duas térmicas, e é responsável pela segunda maior parcela de geração de energia do País, atrás apenas da Itaipu Binacional. A estatal chegou a ser um dos principais ativos do programa de privatização do governo Fernando Henrique Cardoso, mas entraves técnicos e políticos impediram a venda à iniciativa privada. Um deles foi o rombo de R$ 1,2 bilhão descoberto no fundo de pensão da empresa, a Fundação Real Grandeza, em 1999, durante auditoria preparatória para a privatização.

Dimas Toledo, ex-diretor de Engenharia de Furnas, que ganhou notoriedade depois de ser acusado pelo ex-deputado Roberto Jefferson de comandar um esquema de corrupção na empresa, atribui às economias que diz ter acumulado nos cerca de 30 anos que trabalhou na estatal os bens que possui. Em depoimento ao Ministério Público em julho do ano passado, pouco antes de ser exonerado do cargo, ele declarou ter um apartamento na Barra da Tijuca (RJ); uma casa em Lorena (SP); três casas, um apartamento e um terreno em Resende (RJ); 15 alqueires na Bocaina (MG); e três carros (um Pathfinder, um Omega e um Peugeot). Também revelou ter transferido imóveis para dois filhos. Dimas ocupou cargos de diretoria durante duas gestões e chegou a ocupar interinamente a presidência de Furnas, no governo FHC, logo depois da saída Luiz Carlos Santos (PFL).