Título: Esquema de Furnas beneficiava PT, PTB e PSDB, acusa Jefferson
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/02/2006, Nacional, p. A4
Ex-deputado diz que repasses seriam de R$ 1,5 milhão para cada partido aliado e de R$ 600 mil para 12 tucanos
O ex-deputado Roberto Jefferson, que denunciou o mensalão e abalou o governo Lula, revelou ontem novos detalhes da lista de Furnas. Em entrevista ao Estado, ele afirmou que o ex-diretor da estatal Dimas Toledo o procurou em sua casa, em abril do ano passado, e propôs pagar R$ 1,5 milhão mensais ao PTB, à época presidido por ele, em troca da própria permanência no cargo.
"Dimas esteve na minha casa para tratar da partilha. No total eram R$ 4 milhões. R$ 1,5 milhão para o PT e R$ 1,5 milhão para o PTB, mensais, além de R$ 400 mil para as despesas de diretoria que o Dimas teria. Outros R$ 600 mil eram para o grupo dos 12 do PSDB", afirmou o ex-deputado. Segundo ele, o "grupo dos 12" recebia os recursos mediante acordo com o então ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu - hoje também deputado cassado - para que colaborasse com o governo.
O homem que detonou a maior crise política da gestão do PT, no entanto, evitou mencionar nomes. "Estou cansado de ódio", insistiu. "Mas está tudo lá, na lista." A proposta feita por Dimas, afirmou Jefferson, havia sido antes combinada com Dirceu. "Dimas esteve em casa a pedido de José Dirceu. Ele reforçou que a partilha já havia sido acertada com Dirceu."
Segundo o ex-deputado, após ter ouvido e concordado "sem problemas" com a proposta de Dimas, ele procurou o então ministro Dirceu para confirmação do acordo. "Eu perguntei se estava tudo fechado. E o José Dirceu disse: 'Fechado'." Os planos, porém, foram por água abaixo, de acordo com o relato de Jefferson. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, disse o ex-deputado, vetou a permanência de Dimas em Furnas. "Lula questionou a razão de eu concordar com a permanência do Dimas. Eu respondi que tínhamos fechado acordo. Mas ele disse que não queria mais o Dimas lá. Eu, então, concordei com a substituição dele."
À saída da reunião com Lula, Jefferson disse ter sido repreendido por Dirceu. "Você deveria ter batido o pé. Se você pedisse, o Dimas ficava", teria dito o ex-ministro a Jefferson.
O ex-deputado disse acreditar que Lula não sabia do acordo fechado entre Dimas, Dirceu e ele. Para Jefferson, Lula insistiu em substituir Dimas em Furnas como retaliação ao apoio que o ex-diretor da estatal teria dado ao governador de Minas, Aécio Neves (PSDB). "Lula achava que o Dimas estava ligado ao Aécio. E ele não gostou da transferência de R$ 1 bilhão feita de Furnas para a Cemig para o programa Luz para Todos. A execução de tudo foi feita pelo governo de Minas, mas o dinheiro era federal. Na propaganda, só aparecia o governo de Minas e o Lula achou deselegante."
Segundo Jefferson, diante da recusa do presidente em manter Dimas à frente de Furnas, ficou acertada sua substituição por Francisco Spirandel. "Estava tudo acertado para a posse do Spirandel", afirmou. "Mas veio a ordem do Palácio de sustar a posse e saiu a matéria da Veja (envolvendo o ex-diretor dos Correios Maurício Marinho) para vetar a posse do Spirandel. É por isso que eu sempre disse que tinha o dedo da Abin. Isso aconteceu em razão de o PT querer caixa único", disse.
LÓGICA POLÍTICA
Sobre a lista de Furnas, na qual aparecem nomes de vários políticos e de diferentes legendas como beneficiários de recursos, Jefferson diz que não sabe afirmar se é verdadeira. "Não vou acusar amigos. No que me toca (R$ 75 mil), a lista é verdadeira. No resto, ela tem lógica política e se assemelha à verdade", destacou. Segundo ele, quando tentou substituir Dimas por Spirandel, ligado ao PTB, vários parlamentares o procuraram alegando que o então diretor de Furnas era "uma boa pessoa". E prosseguiu: "Ele cobria totalmente o PSDB, o PFL e o PMDB de Minas. Eu recebi enorme pressão. Não quero mais falar. Cansei de ódio. Me tira fora dessa." A reportagem do Estado contatou Dimas Toledo por meio de sua assessoria de imprensa. Ele informou que "não gostaria de comentar nem esse nem outro assunto" ontem.