Título: Saddam encerra greve de fome
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Fonte: O Estado de São Paulo, 28/02/2006, Internacional, p. A8

Desistência foi por questões de saúde. Bagdá tem um dia calmo para os padrões iraquianos

O deposto ditador iraquiano, Saddam Hussein, encerrou, por razões de saúde, a greve de fome que havia iniciado no começo do mês em protesto pela condução de seu julgamento, informou ontem um de seus advogados.

"O presidente manteve uma greve de fome por 11 dias, mas se viu obrigado a encerrá-la , disse ontem Khalil Dulaimi, que se reuniu com Saddam durante sete horas no domingo em Bagdá. O ex-ditador de 68 anos, acusou o tribunal de forçá-lo a ir às sessões que ele pretendia boicotar.

Os advogados de Saddam disseram que irão às sessões que serão retomadas hoje, um mês depois de terem deixado a sala de audiências em protesto e ter acusado o juiz chefe de agir com preconceito contra seu cliente. Saddam enfrenta um julgamento desde outubro pela matança de 148 xiitas na cidade de Dujail, em 1982.

Dulaimi afirmou que solicitará à corte o adiamento das sessões, alegando a piora da situação de segurança no Iraque, apesar de estar quase certo de que o pedido não será atendido.

Mais de 200 pessoas foram mortas na onda de violência sectária desencadeada na quarta-feira pelo atentado contra a Mesquita Dourada, na cidade de Samarra. A mesquita é o quarto lugar mais sagrado para os xiitas no Iraque.

Uma tensa normalidade retornou ontem ao Iraque após o levantamento do toque de recolher imposto para conter a violência entre xiitas e sunitas, mas dois ataques mataram oito pessoas e o temor de uma guerra civil levou famílias a deixarem as áreas de maior conflito.

Após as orações da tarde, duas bombas mataram quatro pessoas perto de uma mesquita sunita no leste de Bagdá, de maioria xiita.

Já na parte oeste da capital, de maioria sunita, 4 civis morreram e 13 ficaram feridos em um ataque com granadas de morteiros. Oito policiais e cinco rebeldes morreram em um tiroteio em Nahrawan, a sudoeste de Bagdá. O Ministério da Defesa informou que suas forças de segurança mataram 35 "terroristas" e detiveram 487 pessoas desde quarta-feira.

Ainda ontem, o governo alemão desmentiu uma informação do New York Times, segundo a qual o serviço secreto alemão entregou aos EUA antes da guerra do Iraque, em março de 2003, um plano de defesa militar de Bagdá. Segundo o jornal, os EUA obtiveram antes da guerra informações-chave coletadas por dois espiões alemães que estavam atuando em Bagdá.

Uma pesquisa realizada pela rede BBC em 33 países indicou que a maioria das pessoas - 60% - considera que a intervenção militar americana e britânica no Iraque aumentou a ameaça terrorista no mundo.