Título: UE envia fundos aos palestinos
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Fonte: O Estado de São Paulo, 28/02/2006, Internacional, p. A7

Segundo chanceler francês, os US$ 143 milhões são para impedir o caos econômico na Autoridade Palestina

BRUXELAS

A União Européia (UE) aprovou ontem o envio de 120 milhões (US$ 143 milhões) em ajuda humanitária para os palestinos antes que o Hamas - um grupo que a UE qualifica de terrorista - assuma o poder. Mas a UE não indicou se manterá a ajuda após o grupo radical islâmico formar o novo governo. Segundo o chanceler francês, Philippe Douste-Blazy, o envio é necessário para evitar "o caos econômico" da Autoridade Palestina (AP), o órgão que governa os territórios sob a administração de palestinos.

O enviado internacional, James Wolfensohn, advertiu que a AP corre o risco de entrar em um colapso financeiro em duas semanas, principalmente por causa da decisão de Israel de não repassar os cerca de US$ 50 milhões mensais em impostos de importação que recolhe em seus portos de produtos destinados aos territórios palestinos.

Segundo um relatório de Wolfensohn, enviado aos mediadores para o Oriente Médio - EUA, UE, ONU e Rússia - , sem o dinheiro de Israel, a AP não terá como pagar os salários dos funcionários públicos, o que pode ter um efeito desestabilizador na região. Cerca de 140 mil pessoas estão na folha de pagamento da AP, incluindo as forças de segurança.

Israel decidiu parar de transferir o dinheiro depois que o Hamas venceu as eleições de 25 de janeiro. Wolfensohn pediu a Israel que considere usar o dinheiro para pagar as dívidas da AP a companhias israelenses, como as fornecedoras de combustível.

O grupo radical islâmico Hamas manifestou sua satisfação pela decisão da UE de desbloquear a ajuda. "A UE começa a adaptar-se à vitória do Hamas nas eleições. A ajuda da UE deve continuar quando o novo governo assumir o poder", disse um dirigente do Hamas, Kalil Abu Leila.

Em uma entrevista publicada ontem pelo jornal árabe Al-Hayat, o líder do escritório político do Hamas, Kaled Meshal, disse que o grupo está disposto a iniciar um diálogo sem condições com qualquer interlocutor internacional, incluindo os EUA, mas exceto com Israel. O grupo também não acatará a condição de reconhecer o Estado judeu e retirar a declaração de princípios de seu grupo que pede a destruição de Israel.

"Nossa posição é clara. Rejeitamos essas condições inócuas que têm demonstrado sua ineficácia já que outras partes palestinas (a AP dirigida pela Fatah) as aceitaram sem que isso tenha modificado a posição de Israel", declarou Meshal.

O governo israelense desautorizou ontem sua chanceler, Tzipi Livni, que declarou que o presidente palestino, Mahmud Abbas, está "fora do jogo" depois da vitória do Hamas. Um funcionário de alto escalão do governo de Israel disse que não foram apropriadas as declarações da chanceler, que também criticou Abbas por ter confiado ao Hamas a formação do gabinete palestino.