Título: Lula diz que 2005 foi muito sofrido e reclama do feriado
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/02/2006, Nacional, p. A5

Em programa de rádio, presidente diz que não deveria haver tanto tempo para descanso

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o ano passado foi muito sofrido, no programa semanal de rádio Café com o Presidente que foi ao ar ontem. "Acho que tivemos um 2005 muito sofrido e acho que o Brasil superou isso." O programa foi gravado sexta-feira à noite, depois do expediente. No mesmo dia, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) anunciou que o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu só 2,3% em 2005. Na América Latina, o desempenho da economia nacional foi superior apenas ao do Haiti, um dos mais pobres da região.

No programa, Lula disse que descansaria os quatro dias de carnaval, mas a contragosto. "Quando tem feriado prolongado, de três ou quatro dias, fico incomodado. Acho que não deveria ter tanto tempo assim de feriado e descanso." Mas esse sentimento, afirmou, é só dele. "Isso é um problema meu, eu sei que eu tenho que descansar." Ele classificou de "equívoco pessoal" essa sua desconfiança com feriados prolongados. Afirmou que o descanso é merecido, porque a vida das pessoas é dura no Brasil. "As pessoas trabalham muito, muito mesmo, e quando têm chance de descansar, as pessoas têm que descansar."

Sem citar a eleição ou se será candidato, Lula disse ter muita coisa para fazer este ano. "Sou muito otimista com 2006 e acho que tenho de aproveitar e pensar." Contou que no descanso tomaria banho de mar na Restinga da Marambaia (RJ) mesmo que repórteres fotográficos insistissem em fotografá-lo.

Comentou que ainda não conhece a Praia de Copacabana nem outras pelo Brasil e atribuiu isso às atividades políticas. "É porque durante a vida inteira viajei muito para os Estados, mas normalmente as pessoas marcavam reuniões das 9 da manhã às 10 da noite, nunca marcavam atividades de lazer." Na quarta-feira, no Piauí, ele teve de acordar às 5h40 para ir à Praia da Lagoa Doce - como o Estado registrou com exclusividade - antes de começar a agenda do dia.

O entrevistador indagou se ele considerava uma homenagem a grande venda de máscaras com seu rosto no carnaval. Lula respondeu com bom humor: "Depende da máscara. Eu acho que, independentemente da máscara que usem, o mais importante é como é que está a alma das pessoas. Se elas estiverem bem, se estiverem felizes, isso é que é bonito."

Depois Lula contou que recebeu uma ligação de Bono, líder da banda irlandesa U2. "Falei com o Bono porque ele entregou para o meu filho uma guitarra para que a gente possa leiloar e arrecadar dinheiro para o Fome Zero. Ele estava em Salvador, me ligou na quarta e não pude dar retorno porque estava viajando. Depois, fiz questão de ligar para ele, para agradecer e dizer que o Brasil está de portas abertas para quando ele quiser voltar."