Título: Para procurador, há amplo esquema de grampo político
Autor: Leonardo Goy
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/02/2006, Nacional, p. A6

Luiz Francisco diz que vai pedir investigação de escutas ilegais no DF

Alvo de escutas clandestinas, o procurador da República Luiz Francisco de Souza suspeita que existe no Distrito Federal um amplo esquema de escuta telefônica com objetivos políticos, "uma verdadeira grampolândia". Ele disse que, após o carnaval, pedirá ao procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, e à direção da Polícia Federal a abertura de uma ampla investigação para descobrir a autoria dos grampos no DF.

No domingo, o Estado noticiou a existência de um esquema de escuta telefônica clandestina contra a procuradora Cláudia Fernanda de Oliveira Pereira, do Tribunal de Contas do Distrito Federal. Ela vinha investigando suspeitas de irregularidades na administração distrital, envolvendo a contratação de serviços sem licitação.

Vários interlocutores de Cláudia foram grampeados, como integrantes do Ministério Público, entre eles Luiz Francisco, o ministro do Esporte, Agnelo Queiroz, e uma amiga de Cláudia, Ana Flávia Rezek, mulher de Francisco Rezek, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal.

"Assim como isso foi feito contra procuradores, pode ter atingido outras pessoas, como jornalistas ou outros integrantes do Ministério Público", disse Luiz Francisco. "Precisamos de uma investigação contundente, para acabar com a escuta clandestina política."

As gravações clandestinas que interceptaram as conversas do procurador com sua colega possuem uma peculiaridade, se comparadas às outras interceptações: são extremamente claras, audíveis - o que levantou a suspeita de que os telefones de Luiz Francisco também estejam ou tenham sido grampeados.

Segundo apurou o Estado, no dia 30 de janeiro começaram a chegar a deputados da Câmara Legislativa do Distrito Federal as gravações das conversas da procuradora. Cláudia participa da força-tarefa que investiga suspeitas de irregularidades envolvendo a Companhia de Desenvolvimento do Planalto Central (Codeplan), responsável pela administração das despesas do governo do Distrito Federal.

As suspeitas são de que a Codeplan estaria contratando os serviços, sem licitação, por meio de uma entidade sem fins lucrativos chamada Instituto Candango de Solidariedade (ICS). De 1998 para cá, o ICS teria recebido R$ 2 bilhões em recursos públicos por meio desse suposto esquema.