Título: A queda da renda no início do ano
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/03/2006, Economia & Negócios, p. B2

A renda dos trabalhadores das seis principais regiões metropolitanas caiu 1,2% entre dezembro e janeiro, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ao mesmo tempo que o índice de desocupação aumentou de 8,3% para 9,2%. Esses dados são compatíveis com os da Fundação Seade e do Dieese relativos à Região Metropolitana de São Paulo, do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) e do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho. Todos registram uma evolução precária do emprego e da renda no início de 2006.

Os dados decepcionam, mas não parecem ter força para produzir uma desaceleração geral do ritmo de atividades, como ocorreu após o choque de juros de 2005. Mas, em grandes centros como São Paulo e Belo Horizonte, eles foram piores do que se poderia esperar.

Entre dezembro e janeiro, segundo o Ciesp, o emprego industrial no Estado de São Paulo aumentou apenas 0,12%, o pior resultado desde 2001. A Fundação Seade constatou leve queda de 9,7% para 9,5% no índice de desemprego aberto, mas em parte explicável porque 84 mil pessoas deixaram de procurar emprego. O Caged mostrou que, no País, o emprego formal acusou aumento de apenas 86,6 mil vagas, ante 100,1 mil em janeiro de 2004 e 115,9 mil em janeiro de 2005.

Na Região Metropolitana de São Paulo, segundo o IBGE, o desemprego aumentou de 7,8% para 9,2%; em Belo Horizonte, de 7% para 8,1%; e em Porto Alegre, de 6,7% para 7,7%. Os feriados de carnaval deverão contribuir para que fevereiro apresente também maus resultados.

Entre dezembro e janeiro, o rendimento médio real nas seis regiões metropolitanas recuou de R$ 998,26 para R$ 985,90. Destacaram-se São Paulo, com queda de R$ 1.136,40 para R$ 1.117,30; Rio, de R$ 967,71 para R$ 956,50; e Salvador, de R$ 809,66 para R$ 786,00. A comparação com janeiro de 2005 tampouco é satisfatória, pois o aumento médio da renda nas regiões pesquisadas foi de apenas 2,3%.

Os dados relativos à renda explicam as decisões de aumentar o salário mínimo e mudar a tabela do Imposto de Renda na fonte. O objetivo do governo ¿ confirmado com a divulgação do substancial aumento dos gastos públicos em janeiro ¿ parece ser o de usá-los para ativar a economia e elevar o poder de compra do trabalhador.

A comparação dos índices de desemprego de janeiro de 2006 com janeiro de 2005 é positiva. Mas, doravante, a evolução da renda real será mais importante tanto para a retomada de atividades como para alcançar a taxa de crescimento econômico que analistas do setor privado estão prevendo, da ordem de 3,5%.