Título: Sem planos para estoques, haverá nova crise em 2007
Autor: Gustavo Porto
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/03/2006, Economia & Negócios, p. B1

A produção de álcool no Centro-Sul do País começa hoje sem um único plano estratégico de formação de estoques para a próxima entressafra. O único mecanismo, operado pelo Banco do Brasil (BB) e aberto aos bancos privados, será novamente cortado, anunciou o ministro da agricultura, Roberto Rodrigues. A medida faz parte da retaliação contra os usineiros.

A ausência de reserva estratégica de álcool anidro e hidratado foi o motivo que levou o Brasil ao atual risco de desabastecimento e ao descontrole total dos preços aos consumidores. A situação atual pode se repetir no próximo ano, afirmou ontem Antonio de Pádua Rodrigues, diretor da União da Agroindústria Canavieira (Unica).

O governo disse ao setor, logo depois do acordo de preços, que iria estudar a criação de um dispositivo regulatório para minimizar a variação de preços nos períodos de safra e entressafra. A idéia é de que o modelo de financiamento, seja mediante a criação do mercado futuro, seja a partir da concessão de crédito com juros equalizados (como o atual modelo), mantenha o preço do álcool em patamares que garantam estímulo a produção. Assim, parte do setor poderia recorrer a estes mecanismos e sair do mercado, reduzindo a oferta sem riscos de desabastecimento.

O álcool estocado seria ofertado ao mercado na entressafra, quando haveria a tendência de alta de preços, como a que ocorre neste momento. O mecanismo evitaria preços muito altos ou muito baixos. "É algo necessário. Desde 1999, quando esse mercado foi desregulamentado vivemos nesta gangorra. É hora de acabar com esta situação", diz o diretor da Unica.

O anúncio do ministro de que o único mecanismo não receberá recursos para funcionar deixa as coisas da forma como estão. "Vai depender muito do mercado em 2006, da produção, do preço. O fato é que podemos sim enfrentar tudo o que estamos enfrentando novamente", diz a Unica.

A dependência que o setor sucroalcooleiro tem do governo para formação dos estoques é total, um problema confessa a Unica. O "financiamento da vantagem" no ano passado previa a liberação de R$ 500 milhões para a formação de 1 bilhão de litros em estoque. O crédito, com juros subsidiados a partir do uso de R$ 35 milhões da Cide, tiraria uma parte das usinas do mercado. Mas há quem critique esta dependência. Segundo um executivo de uma grande produtora de álcool, o setor que pede liberdade de preços não pode depender do governo para formar estoques. A Unica até concorda e tenta formar consenso no setor para resolver o problema.