Título: Cana neste início de safra tem rendimento menor
Autor: Gustavo Porto
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/03/2006, Economia & Negócios, p. B1

O período chuvoso eleva a absorção de água pela cana, o que reduz o teor de açúcar

A cana-de-açúcar que as usinas e destilarias irão cortar durante o mês de março para atender a solicitação do governo e suprir o abastecimento de álcool tem produção menor do que se fosse colhida a partir de abril, como ocorre normalmente.

Segundo o engenheiro agrônomo Manoel Carlos Azevedo Ortolan, presidente da Associação dos Plantadores de Cana do Oeste do Estado de São Paulo (Canoeste), nesta época, as lavouras ainda estão sob a influência do período de chuvas. A cana retém mais líquido e, em razão dos períodos de céu encoberto, apresenta menor teor de açúcar. "É uma cana mais aguada", explicou. Para atender o compromisso com o governo de colocar no mercado, até o fim de abril, 850 milhões de litros de álcool, as usinas terão de moer quantidade maior de matéria-prima.

A intenção das usinas é moer inicialmente a cana não colhida na última safra, encerrada em novembro, quando três milhões de toneladas ficaram nos canaviais. Essa cana está mais madura do que a dos canaviais formados nas áreas colhidas. O sucesso da safra antecipada, segundo ele, depende ainda das condições climáticas. "Em algumas regiões canavieiras, o mês de março ainda é chuvoso."

Por outro lado, em janeiro deste ano ocorreram períodos de estiagem no Estado de São Paulo, chegando a afetar a formação de alguns canaviais. De acordo com Ortolan, a safra 2006/07 pode chegar a 380 milhões de toneladas, mas depende do clima. "Se houver uma quebra de 5%, são 20 milhões de toneladas a menos", compara.

Ele lembra que os órgãos de pesquisa estão investindo no melhoramento genético dos cultivares. O objetivo é obter, na mesma área cultivada, uma produção maior de açúcar e de álcool. O Estado de São Paulo plantou, na safra passada, 3,7 milhões de hectares. Estimativa do Instituto de Economia Agrícola (IEA) indica aumento de 6,5% da área cultivada atual.

A União da Agroindústria Canaveira (Unica) prevê a produção de 16 bilhões de litros de álcool na safra que começa agora na região Centro-Sul. No Nordeste, a produção deverá ser de 1,5 bilhão. É uma previsão otimista, principalmente se considerados os problemas de quebra da safra passada, quando o setor esperava produzir 15 bilhões de litros de álcool no Centro-Sul e produziu 14,4 bilhões de litros.

Isto, combinado com o crescimento da demanda interna e a manutenção das vendas externas de 2,5 bilhões de litros, comprometeu os estoques. Agora, a necessidade de colher a cana fora do tempo correto é consequência deste cenário.