Título: Gripe aviária mata gato na Alemanha
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/03/2006, Vida&, p. A9

EPIDEMIA Especialista alemão e OMS divergem sobre risco para humanos; Suécia tem o primeiro foco da doença em aves Especialista alemão e OMS divergem sobre risco para humanos; Suécia tem o primeiro foco da doença em aves

A forma mais agressiva de gripe aviária foi identificada em um gato na Alemanha. É o primeiro caso de infecção de um mamífero pelo vírus H5N1 na Europa. O gato foi localizado morto no fim de semana na ilha de Ruegen, costa do Mar Báltico, ao norte da Alemanha. Mais de cem aves silvestres foram infectadas pela variante mais letal do vírus em Ruegen, desde o primeiro registro, em 14 de fevereiro. Uma das hipóteses é que o gato tenha comido parte de um pássaro infectado, seguindo um padrão de transmissão já detectado em grandes felinos na Ásia, segundo Thomas Mettenleiter, chefe do Instituto Friedrich Loeffler.

Recentes experimentos conduzidos pelo virologista Albert Osterhaus, da Universidade Erasmus, em Roterdã, Holanda, já tinham demonstrado que gatos domésticos também são suscetíveis à influenza aviária (revista Nature, número 439, de 16 de fevereiro).

Mettenleiter insiste, porém, que não há perigo para humanos, pois não há casos documentados de transmissão do H5N1 de um gato para uma pessoa. Autoridades locais, porém, estão pedindo que donos de animais de estimação mantenham seus bichos trancados em casa, como precaução.

Também destoando de Mettenleiter, Maria Cheng, porta-voz da Organização Mundial da Saúde (OMS), afirmou que não há informação suficiente sobre como a doença é transmitida para que se tenha certeza de qualquer coisa. "Não sabemos o que isso significa para seres humanos, não sabemos o papel desses animais na transmissão da doença", admitiu. "Não temos informação sobre quanto vírus os gatos expelem, nem o quanto uma pessoa precisa ficar exposta a ele para ficar doente."

O mesmo artigo da revista Nature que menciona as pesquisas de Osterhaus divulgou um estudo realizado em 2005 pelo Instituto Nacional de Saúde Animal de Bangcoc, capital da Tailândia, em que foram testados 629 cães e 111 gatos no distrito de Suphan Buri, região central do país. Da amostra, 160 cães e 8 gatos tinham anticorpos para o H5N1, indicando que estavam infectados pelo vírus, ou tinham sido infectados. O resultado foi considerado preocupante pelos especialistas.

DOENÇA CHEGA À SUÉCIA

O governo sueco declarou ontem que identificou os primeiros casos de uma "forma agressiva de gripe aviária", que provavelmente é a causada pelo H5N1. Dois patos selvagens foram localizados mortos na costa do Mar Báltico, próximos ao porto de Oskarshamn.

O governo russo confirmou que uma granja inteira da região de Krasnodar foi devastada pela gripe aviária - e não pela doença de Newcastle, como se acreditava. Cerca de 100 mil frangos foram sacrificados. Mais de 500 mil aves foram destruídas só neste ano na Rússia na tentativa de deter o avanço da gripe aviária.

Na Turquia, de 106 localidades onde focos de gripe aviária foram confirmados desde dezembro, 66 continuam cumprindo quarentena. Foram sacrificadas 2,27 milhões de aves. Das 21 pessoas que foram infectadas pelo H5N1 em janeiro, quatro - todas crianças - morreram.

"O risco agora é alto para todos", advertiu Bernard Vallat, diretor-geral da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) e anfitrião, em Paris, de um encontro que reuniu por dois dias especialistas veterinários de cerca de 50 países. Vallat anunciou anteontem que a gripe aviária havia chegado a Níger, mas o governo insistiu em negar.

SUSPEITA NO CARIBE

Especialistas foram enviados ontem à ilha de Inagua, no sul das Bahamas, para esclarecer se uma série de mortes de aves está ou não associada à gripe aviária. Nos últimos dois dias, 21 aves, entre as quais 15 flamingos, foram encontradas mortas sem sinais de ferimentos.

Inagua fica no ponto superior de um triângulo formado por Guantánamo, em Cuba, e por Cap-Haitien, no Haiti. "Tudo é possível na natureza. Há aves migratórias que voam ao redor do mundo", disse o ministro da Agricultura e Recursos Marinhos, Leslie Miller. "Mas queira Deus que esses não sejam casos de H5N1 aqui nas Bahamas."

NO PREJUÍZO

Já são 43 os países que impuseram restrição total ou parcial aos produtos avícolas franceses, reagindo à infecção por H5N1 em uma granja industrial de perus. Isso representa, segundo o ministério do Comércio, um impacto de 12% sobre as vendas externas do país, o maior produtor avícola da União Européia. Entre os países estão Brasil, Argentina e Estados Unidos.

O ministro da Agricultura, Dominique Busserau, disse em audiência no Parlamento francês que o país está "mobilizado no plano diplomático para que esses países possam reexaminar essas medidas".