Título: Após dia calmo, 70 morrem no Iraque
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Fonte: O Estado de São Paulo, 01/03/2006, Internacional, p. A7

Para governo, são cerca de 400 em semana de conflito entre sunitas e xiitas, mas 'Washington Post' cita 1.300

BAGDÁ

Uma sucessão de atentados com carros-bomba e granadas provocou ontem a morte de pelo menos 70 pessoas no Iraque, elevando para, no mínimo, mais de 400 o número de mortos desde o ataque que na semana passada destroçou a Mesquita Dourada, templo sagrado dos xiitas, em Samara, ao norte de Bagdá.

Após um período de calmaria no domingo, o governo suspendeu na segunda-feira o toque de recolher em Bagdá e cidades vizinhas. Mas ontem a violência ressurgiu com força, tendo como alvo áreas ou templos religiosos xiitas ou sunitas. Um dos ataques foi contra uma mesquita em Tikrit, no norte, onde está enterrado o pai de Saddam. O túmulo dele ficou danificado.

O atentado em Samara desencadeou uma onda de ações de represália de xiitas contra mesquitas sunitas, intensificando o conflito entre as duas comunidades, a ponto de autoridades e analistas políticos temerem uma guerra civil no Iraque. Até quarta-feira da semana passada, a maior quantidade de ataques vinha sendo desfechada por insurgentes sunitas - nacionalistas ou aliados do ex-presidente Saddam Hussein - e por extremistas islâmicos, incluindo grupos infiltrados no país, como a Al-Qaeda. Os alvos eram as forças de segurança iraquianas, os soldados americanos e a comunidade xiita. Ataques a grupos sunitas também ocorriam. Desde o atentado à Mesquita Dourada, no entanto, o que se viu foi uma aceleração dos embates entre milícias sunitas e xiitas. Autoridades acreditam que a Al-Qaeda promoveu o atentado em Samara para aprofundar a divisão entre os dois grupos islâmicos, o que de fato tem ocorrido nos últimos dias.

Antes dos atentados de ontem, o gabinete de ministros divulgou um balanço indicando a morte de 379 pessoas e ferimentos em 458 em uma semana de violência. A julgar pelo número de pessoas que se concentram nos necrotérios de Bagdá em busca de parentes ou amigos, os números parecem ser bem maiores, segundo cálculos de agências de notícias e jornais estrangeiros. A estimativa mais elevada foi feita pelo diário americano The Washington Post: 1.300 mortos em todo o país, o que faria dessa semana a com o maior número de baixas entre os iraquianos, excetuando-se o período entre a invasão do Iraque e a tomada de Bagdá. O Post informou ter feito um levantamento no principal necrotério de Bagdá e cita como fonte o Departamento de Estatísticas da polícia iraquiana.

Outros órgãos da imprensa americana, como New York Times e a TV a cabo CNN, citaram apenas o dado oficial. Os números do Post foram refutados pelo primeiro-ministro provisório do Iraque, Ibrahim al-Jaafari. De acordo com a Reuters, as autoridades estão tentando reduzir a proporção da violência . Mas a Associated Press informou que funcionários do maior necrotério de Bagdá mencionaram a chegada de 249 corpos desde domingo, o que inviabilizaria a estimativa do Post.

Em Washington, depois de receber o primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, o presidente George W. Bush disse que os líderes iraquianos tentam superar a violência sectária. Bush afirmou que o Iraque enfrenta o dilema entre "caos e unidade".