Título: Presidente terá palanque duplo em quatro Estados
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/03/2006, Nacional, p. A5

Com o fim da verticalização, além de contar com os candidatos do PT, Lula também terá apoio de aliados

Na corrida para tentar a reeleição, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode ter mais de um palanque eleitoral em pelo menos quatro Estados. Os apoios mais decisivos dependem ainda das articulações políticas que o PT terá de fazer - que em 2002 foram estrategicamente montadas pelo ex-ministro José Dirceu. Sem o apoio do agora deputado cassado - que perdeu seus direitos políticos na esteira do escândalo do mensalão -, Lula vai depender da habilidade de outros petistas e da capacidade deles de convencer companheiros de regiões que rejeitam a "poligamia", ou seja, que o presidente freqüente mais de uma campanha em cada Estado.

"A lógica da desverticalização permite que o presidente suba em mais de um palanque", sustenta o deputado petista Paulo Delgado (MG). Conhecedor do partido, porém, ele prevê problemas. "Resta saber se os diretórios estaduais vão aceitar a poligamia", comenta.

As candidaturas aos governos estaduais ainda estão sendo definidas, mas já é dado como certo, entre dirigentes petistas, que Lula vai ter dois palanques no Rio. Lá, o presidente vai participar de atos com Vladimir Palmeira, o pré-candidato do PT à sucessão de Rosinha Garotinho (PMDB), mas também fará campanha para o candidato a governador do PRB, o senador Marcelo Crivella.

Em 1998, Palmeira também deveria ter sido candidato a governador. Na ocasião, porém, uma intervenção do diretório nacional do PT impediu que disputasse, abrindo a vaga para Benedita da Silva como vice na chapa de Anthony Garotinho (à época no PDT, hoje no PMDB), que venceu a eleição.

DIVISÕES

Alegando que ainda não há definições regionais, o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), diz apenas que hoje seu partido não vive o mesmo dilema do PSDB - referindo-se ao fato de os tucanos terem dois pré-candidatos à Presidência, o prefeito de São Paulo, José Serra, e o governador Geraldo Alckmin. "Nacionalmente estamos unidos em torno da candidatura do presidente Lula. Falta apenas ele de fato confirmar que é candidato", comentou Berzoini. Em relação às disputas estaduais, admite que elas ainda provocam "divisões" no PT.

Ter mais de um palanque nesta campanha ainda depende do processo de entendimento nos Estados. Mas, segundo o Estado apurou, além do Rio, há forte tendência para Lula ter palanque duplo em Pernambuco, Maranhão e Tocantins. Em Pernambuco, o petista Humberto Costa, ex-ministro da Saúde de Lula, lidera as pesquisas e é, por isso, o favorito no PT para disputar a eleição ao governo. Há no partido, porém, os que defendem o apoio à candidatura de Eduardo Campos (PSB), também ex-ministro (da Ciência e Tecnologia) do governo Lula.

O PSB, assim como fez o PC do B, já definiu seu apoio à reeleição de Lula. Se o PT não conseguir atrair o PMDB para essa mesma causa, é possível que negocie com o PSB a indicação de um nome para a vaga de vice-presidente na chapa. Nesse caso, seria uma escolha do próprio Lula, e o nome mais forte hoje é o do ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes.

Há até uma terceira via na disputa pernambucana. Lula pode subir no palanque do presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto (PTB).

No caso do Maranhão, a situação ainda está incerta. Um grupo do PT defende apoio à candidatura de Jackson Lago (PDT). Mas o PSB deve trabalhar pela reeleição do governador José Reinaldo. Assim, Lula poderia ter livre trânsito nos palanques das duas legendas.

ALIADO HISTÓRICO

O mesmo se repete no Tocantins, onde o aliado histórico PC do B já definiu que terá candidatura própria: o escolhido para a disputa em outubro seria o senador Leomar Quintanilha.

O PT local briga para ter candidatura própria no Estado. Se os dirigentes estaduais conseguirem emplacar um nome, Lula terá mais uma vez o próprio palanque do PT e o do PC do B.

O presidente do PC do B, Renato Rabelo, confirma apoio à candidatura de Lula, mas diz que, apesar da disposição para um acordo com o PT, sua sigla não pode abrir mão de candidaturas próprias nos Estados.

Por enquanto, além do Tocantins, o PC do B já definiu que lançará candidato ao governo do Distrito Federal: o ministro dos Esportes, Agnelo Queiroz. No DF, Lula não terá mais de um palanque porque o PT local decidiu não disputar e apoiar o PC do B.

Folga acaba e Lula volta a Brasília

Depois de quatro dias isolado na base da Marinha na Restinga de Marambaia, no litoral sul do Rio, o presidente Lula retornou na tarde de ontem a Brasília. Durante a manhã, o presidente passeou de lancha ao longo da estreita faixa de terra de Marambaia.

A embarcação ficou ancorada por mais de uma hora perto de uma das praias para que Lula e outros passageiros fizessem uma pescaria. De longe - os repórteres foram mantidos a 1 quilômetro de distância -, o presidente parecia descontraído. De sunga azul, ele pescou sentado na proa e depois na popa da embarcação. Além de golfinhos, patos marinhos, tartarugas, corvinas e bagres, o mar ali é cheio de águas-vivas.

Foi a primeira vez que Lula esteve na base, onde permaneceu todo o tempo. Seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, era freqüentador assíduo do local. A Marinha montou forte esquema de segurança e todas as lanchas alugadas pela imprensa para fazer imagens foram interceptadas pela Capitania dos Portos.