Título: Setor privado também tem divergências sobre a TV digital
Autor: Gerusa Marques , Isabel Sobral
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/02/2006, Economia & Negócios, p. B7

Empresários do setor tendem mais para os modelos japonês e europeu

A falta de consenso no governo sobre a escolha do padrão de TV digital adiou por 30 dias a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A nova data para a definição do modelo, que deveria ser anunciado até amanhã, foi formalizada ontem por meio de decreto publicado no Diário Oficial da União. Ficou para 10 de março. O ministro das Comunicações, Hélio Costa, argumentou que "é uma decisão política, técnica e econômica". "Não é tão rápida", disse.

A dificuldade de consenso também é observada no setor privado. Ontem, divergências de ordem tecnológica e comercial, além da questão de prazo para a definição do padrão, ficaram explícitas num debate na Câmara. O presidente da Casa, Aldo Rebelo, reuniu no plenário representantes das emissoras de TV, da indústria de televisores, das operadoras de telefonia celular e de entidades da sociedade civil. No final, ficou claro que a escolha está mais para os modelos japonês e europeu.

Os quatro ministros que compõem o comitê da TV digital - Hélio Costa, Dilma Rousseff (Casa Civil), Antonio Palocci (Fazenda) e Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) - analisam três aspectos: tecnológico, comercial e político. Lula receberá um relatório em que cada aspecto é analisado.

Se o Brasil quer fazer a melhor escolha técnica, os estudos apontam para o japonês. Mas é necessário pensar em um potencial de mercado de exportação para as indústrias brasileiras de televisores e, nesse quesito, o europeu leva vantagem, pois é usado em mais de 50 países.

O padrão americano também se credencia comercialmente por causa da extensa pauta de negociações entre Brasil e Estados Unidos, mas só é usado lá e no Canadá. Do ponto de vista político, é preciso considerar o desejo das emissoras de TV, que já mostraram preferência pelo sistema japonês.

Os radiodifusores defenderam uma solução rápida. O presidente da Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), José Inácio Pizani, disse que o padrão japonês "é o mais evoluído tecnologicamente". Entidades de defesa da democratização das comunicações, por sua vez, querem que a escolha do padrão ocorra só depois da elaboração de uma nova legislação para o setor.

A preferência de Costa pelo padrão japonês e a forma como conduz o processo foram criticadas. "Não foi realizada nenhuma audiência pública sobre um assunto que interessa a 95% da população, enquanto Hélio Costa se reúne a portas fechadas com os radiodifusores", afirmou o presidente da Intervozes, Gustavo Gindre.