Título: Bandidos continuam armados
Autor: José Maria Mayrink
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/02/2006, Internacional, p. A17

Desarmamento iniciado em 2004 não deu resultados

O desarmamento da população no Haiti está na estaca zero, após 17 meses de trabalho de 60 peritos das Nações Unidas. De 220 mil armas de fogo que, conforme se estima, existem no país, 6 mil são usadas pela polícia, 15 mil estão nas mãos de bandidos e cerca de 200 mil estão escondidas em casa. Apenas 26 mil são legais.

¿Gastamos US$ 9 milhões desde setembro de 2004 e não conseguimos recolher quase nada¿, disse o chefe do Desarmamento, Desmobilização e Reinserção (DDR), o irlandês Desmond Molloy, um ex-militar que trabalhou no Camboja.

A maior dificuldade que sua equipe encontrou no Haiti foi o fato de não haver com quem negociar. ¿Uma campanha tradicional para que as pessoas entregassem as armas não deu certo¿, queixa-se o irlandês. ¿Apresentaram-se 50 interessados apenas.¿

Quando Molloy perguntou onde estavam as armas, os bandidos disseram que não sabiam, porque as tinham entregue a Dread Wilme, um dos líderes de Cité Soleil, morto no ano passado. ¿Falaram que Wilme enterrou as armas pouco antes de morrer, ninguém sabe onde¿, disse Molloy.

Além de não ter com quem negociar, porque os bandidos se dividem em grupos rivais, a equipe de Molloy não consegue chegar a Cité Soleil. ¿Nunca entrei lá, mas sei que as gangues estão bem armadas e continuaram recebendo armas de fora¿, continuou o irlandês. O fornecimento viria da Colômbia, via Suriname, e ilhas do Caribe.

Depois do fracasso do método tradicional, que consiste em abordar diretamente os portadores de armas, a equipe de Molley começará a usar também outros caminhos ¿ o trabalho com jovens, com mulheres, com a polícia e com a comunidade. ¿Nossa meta é recolher 170 mil armas com a ajuda da comunidade, ligando segurança a desenvolvimento¿, anunciou Molley.