Título: Hackers muçulmanos atacam sites ocidentais
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Fonte: O Estado de São Paulo, 09/02/2006, Internacional, p. A16

Zona-H nunca viu tantos ataques motivados por questão religiosa em tão pouco tempo

LONDRES

Mais de 600 websites da Dinamarca foram invadidos nos últimos dias por hackers islâmicos em protesto contra as charges do profeta Maomé publicadas pela imprensa européia. A informação é da empresa de monitoramento online Zone-H, que também detectou invasões em mais de mil sites israelenses e de países ocidentais.

De acordo com a Zona-H, o número de ataques é recorde para uma polêmica religiosa. Em entrevista à BBC, o fundador e administrador da Zone-H, Roberto Preatoni, disse nunca ter visto tantos ataques motivados por uma questão religiosa em um espaço de tempo tão curto. "O mais interessante nesse caso foi a rapidez com que a comunidade se mobilizou", disse ele.

Com o monitoramento de canais de bate-papo em que é comum a participação de hackers, a Zone-H identificou a formação de grupos de ativistas de vários países que teriam se unido para tornar as invasões mais eficientes. Os grupos envolvidos são da Turquia, Arábia Saudita, Omã e Indonésia. Muitos deles já eram conhecidos, mas outros emergiram recentemente.

Ainda segundo a Zone-H, o conceito de uma "Nação Islâmica" transcontinental nunca foi tão "digitalmente claro" como hoje. "Na verdade, trata-se de uma União Islâmica sem fronteiras e distante das amarras governamentais", diz uma reportagem sobre os ataques divulgada ontem no site da empresa.

Para protestar contra a publicação das caricaturas, os hackers substituem as páginas originais por mensagens pró-islâmicas.

Os atacantes se dividem em dois grupos. Os mais calmos apenas protestam e xingam. Os mais exaltados defendem uma resposta violenta contra quem publicou as charges. As investidas, de acordo com o Zone-H, são feitas tanto por indivíduis como por grupos de muçulmanos. Em um dos ataques identificados pela Zone-H, o hacker "DarlBlood" incita o boicote a produtos dinamarqueses pela comunidade islâmica. Muitos manifestantes, no entanto, chegaram a fazer ameaças de atentados suicidas. Isso é o que dizia, por exemplo, uma mensagem postada em um fórum dinamarquês por um grupo que se autodenomina "Brigadas Islâmicas da Internet".

Segundo a Associated Press, nas últimas duas semanas os servidores do Jyllands-Posten também foram alvo de ciberterrorismo. Em uma das tentativas, hackers muçulmanos conseguiram tirar o portal do ar temporariamente.