Título: Livro e comediante incitaram jornal da Dinamarca a questionar autocensura
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/02/2006, Internacional, p. A15

Ao finalizar o livro infantil O Alcorão e a vida do Profeta Maomé, o escritor e jornalista dinamarquês Kare Bluitgen teve dificuldades em encontrar um desenhista que aceitasse ilustrar o livro. A justificativa mais freqüente era o temor de represálias de extremistas islâmicos. Quando finalmente encontrou alguém que aceitasse o trabalho, Bluitgen não incluiu seu nome no livro: o cartunista só aceitou colaborar sob a condição de anonimato.

A experiência de Bluitgen foi um dos motivos que levaram o editor de cultura do jornal dinamarquês Jyllands-Posten, Flemming Rose, a indagar se havia um sentimento de autocensura em seu país e na Europa. Rose constatou que esse temor estava disseminado, já que o comediante dinamarquês Frank Hvam havia declarado que ousaria urinar sobre a bíblia, mas não sobre o Alcorão. E em toda Europa não se encontravam tradutores para um livro de Ayan Hirsi Ali, roteirista do filme Submission, do cineasta holandês Theo Van Gogh. Em 2004, Van Gogh foi morto em represália pela forma como retratou o tratamento dado às muçulmanas.

Foi por esses motivos que Rose resolveu lançar o desafio de retratar Maomé. Doze desenhistas aceitaram a proposta, e as charges foram publicadas em setembro. Quando eles apareceram em um jornal norueguês este ano, os protestos se espalharam pelo mundo.