Título: Rice acusa Irã e Síria pela violência
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Fonte: O Estado de São Paulo, 09/02/2006, Internacional, p. A15

Os dois países, segundo a secretária de Estado dos EUA, estariam estimulando protestos nos países muçulmanos

A secretária de Estado dos Estados Unidos, Condoleezza Rice, acusou a Síria e o Irã de estimularem deliberadamente os violentos protestos no mundo islâmico contra a publicação por parte da imprensa européia de caricaturas do profeta Maomé, que ontem deixaram mais 4 mortos no Afeganistão.

Segundo a chefe da diplomacia americana, Irã e Síria estão usando o incidente com claro propósito de inflamar sentimentos antiocidentais no mundo islâmico. Condoleezza fez essa declaração pouco depois de um apelo do presidente George W. Bush aos governos dos países islâmicos para conter a onda de violência e notícias sobre novos e graves distúrbios no Afeganistão.

O presidente americano conclamou os países islâmicos a conter a onda de violência desatada pela republicação das 12 caricaturas do profeta Maomé. E também a defender a integridade dos diplomatas e a propriedade privada. Bush disse que os governos devem agir com determinação e respeito para pôr fim aos graves distúrbios que ameaçam a vida de pessoas inocentes. Ele dirigiu o apelo ao receber, na Casa Branca, o rei Abdala, da Jordânia.

Os Estados Unidos suspeitam de que grupos terroristas islâmicos, como a Al-Qaeda, de Osama bin Laden, e a Jihad Islâmica, estejam instigando e coordenando as manifestações de protesto que assolam o mundo muçulmano - em particular o Afeganistão. Segundo fontes do Departamento da Defesa, uma ampla investigação, em conjunto com serviços secretos de países aliados, está em pleno andamento.

DISTÚRBIOS

Pelo terceiro dia consecutivo, as forças de segurança afegãs dissolveram ontem à bala uma manifestação, matando 4 pessoas e ferindo pelo menos 20. Desta vez, na cidade de Qalat, província de Zabul (sul do país). A multidão dirigia-se a uma base militar americana na região, quando a polícia interveio.

"Manifestantes portando armas de fogo atacaram e incendiaram quatro postos de gasolina e feriram com pedradas vários agentes que tentavam contê-los", disse o general Abdul Razaq, comandante das forças de segurança afegãs na província, tentando justificar a sangrenta reação dos policiais. Eleva-se agora a 12 o total de afegãos mortos desde segunda-feira, quando começaram as tentativas de ataque e invasão das instalações militares estrangeiras no país, incluindo um QG da Organização do Tratado ao Atlântico Norte (Otan).

O presidente Hamid Karzai lamentou a republicação das caricaturas de Maomé na Europa, classificando-a de "insulto para mais de um bilhão de islâmicos". Mas lamentou os ataques contra os soldados europeus mobilizados no Afeganistão. "Eles nada têm a ver com isso", destacou Karzai. "Estão aqui para ajudar-nos a estabilizar e reconstruir o país."

Preocupado com o agravamento da crise, o Conselho de Ulemás do Afeganistão reuniu-se ontem em Cabul e pediu à população que expresse sua indignação contra o ato de blasfêmia pacificamente, lembrando que o Alcorão condena a violência.