Título: Índios seqüestram funcionários da Vale
Autor: Ernesto Batista
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/02/2006, Nacional, p. A13

Grupo de 4 pessoas foi dominado por 200 guajajaras, que interditaram a Estrada de Ferro Carajás, no Maranhão

Quatro funcionários da Companhia Vale do Rio Doce foram seqüestrados anteontem por 200 índios guajajaras que interditaram a Estrada de Ferro Carajás (EFC) no povoado de Alzilândia, município de Alto Alegra do Pindaré, distante 290 quilômetros de São Luís. O seqüestro ocorreu por volta das 18h30, cerca de 9 horas depois de os índios lançarem toras de madeira sobre a linha férrea para protestar contra o modelo de assistência médica adotado pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa).

Os funcionários da mineradora estão sendo mantidos reféns no mesmo local onde os índios instalaram a barreira para impedir a circulação dos trens de carga e de passageiros da Vale. Cerca de 500 mil toneladas de cargas e 2.400 passageiros deixaram de ser transportados pela ferrovia nos dois dias em que já dura a interdição.

Está é segunda vez em dez meses que os índios da etnia guajajara - uma das sete que vivem no Maranhão - se revoltam e causam problemas na região central do Estado. Em abril de 2005, cerca de 70 índios de duas tribos de Grajaú, distante 600 quilômetros de São Luís, começaram uma revolta por conta de um assassinato de um índio a mando de um fazendeiro. Eles saquearam carvoarias, incendiaram uma ponte, um trator, demoliram uma fazenda e roubaram veículos de um povoado dentro das terras do suposto mandante do assassinato.

REPÚDIO

A Funasa e a Fundação Nacional do Índio (Funai) enviaram ontem uma equipe de negociadores ao Maranhão. Segundo informações divulgadas pela Justiça Federal - o juiz da 4.º Vara Federal concedeu liminar ordenando a desobstrução da ferrovia -, a interdição havia sido anunciada no dia 25, depois de uma reunião entre lideranças indígenas em Grajaú.

Segundo o coordenador regional da Funasa para região do conflito, Carlos Augusto Costa Lima, o movimento foi articulado pelas oito organizações não-governamentais que faziam a gestão da saúde indígena até 2004. "Foi um retaliação", afirmou Lima. As ONGs acabaram sendo dispensadas quando o governo federal encontrou problemas legais nas prestações de contas das entidades.

A direção da Vale divulgou nota em que "repudia tamanha violência em desrespeito aos direitos humanos de seus empregados". "A Companhia Vale do Rio Doce espera que as autoridades competentes tomem as medidas necessárias para libertar seus empregados, com segurança e rapidez, e para restabelecer a ordem."