Título: Jobim diz que não vai disputar eleição este ano
Autor: Mariângela Gallucci
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/02/2006, Nacional, p. A12

Ele conta que sairá do STF em março, mas para a vida privada: "Sou candidato a advogado"

Após sofrer uma série de críticas por sua atuação na presidência do Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Nelson Jobim confirmou ontem que deixará a corte em março, mas garantiu que não será candidato nas eleições deste ano. A informação já havia sido antecipada pelo Estado no domingo. "Estou indo para a vida privada. Não serei candidato", disse. "Sou candidato a advogado."

Jobim concedeu liminares suspendendo decisões de quebra de sigilo tomadas por CPIs, beneficiando, entre outros, o presidente do Sebrae, Paulo Okamotto, amigo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Nos últimos dias, o presidente do STF foi criticado até por integrantes do tribunal. Segundo eles, seu comportamento poderia provocar a abertura de um processo de impeachment.

Colega de Jobim no STF, o futuro presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Marco Aurélio Mello, chegou a dizer que "a toga não pode ser utilizada visando a chegar ao cargo buscado, ao cargo eletivo".

CONFUSÃO

O presidente do STF foi obrigado a revelar os seus planos durante uma audiência pública ocorrida ontem na Câmara.

A reunião era para discutir uma proposta de emenda que prevê uma revisão constitucional. Jobim foi provocado pelo deputado Alceu Collares (PDT-RS), que indagou se ele seria ou não candidato.

O ministro respondeu: "Estou indo para a vida privada. Não se preocupe, não estou indo para a disputa em Bagé."

Collares, que é natural de Bagé (RS), comentou: "Estamos aliviados." Jobim retrucou: "Por quê? Teria medo que eu ganhasse?" O parlamentar respondeu: "Não. Tinha medo de continuar a confusão."

Ao sair da audiência, Collares explicou que, ao falar em confusão, referiu-se ao fato de que Jobim não pode ser candidato e, ao mesmo tempo, exercer a função de ministro do Supremo. "Isso desmoraliza o Judiciário", afirmou. "Se ele quiser ser candidato, tem de renunciar ao mandato de presidente do STF."

Indagado se havia se convencido com a resposta de Jobim, Collares declarou: "Ele não tem nenhuma resposta de convencimento."

Procurado por jornalistas, Jobim reafirmou ao final da audiência que não será candidato. "Sou candidato a advogado", limitou-se a responder. Questionado se irá para o PMDB, partido pelo qual já foi deputado, o presidente do STF fez mistério: "Vocês vão ver em março."