Título: Lula manda mensageiro de paz a FHC
Autor: Expedito Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/02/2006, Nacional, p. A7

Preocupado com os ataques do antecessor, presidente não quer ganhar pecha de desonesto

Momentos antes de viajar para a África o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu a dois interlocutores petistas, com livre acesso aos caciques do tucanato, que levassem ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso uma mensagem de paz. Na conversa, Lula demonstrou desconforto com o tom que o ex-presidente vem imprimindo à campanha eleitoral antes mesmo de ela começar. Para o atual presidente, FHC está exagerando nos ataques ao PT.

Lula se disse impressionado com o nível de agressividade de FHC e procurou saber dos petistas o que teria acontecido para despertar a ira do líder tucano. "Vocês, que são amigos de Fernando Henrique, deveriam conversar com ele para saber o que está acontecendo", disse o presidente a um dos interlocutores escalados na missão de paz.

Um deles tentou refrescar a memória de Lula, lembrando que, no período que o PT estava na oposição, o então governo do PSDB sofria o mesmo tipo de duro combate político. "Presidente, eles estão fazendo o mesmo que nós fizemos nos oito anos de Fernando Henrique no Planalto", disse um dos participantes da conversa.

A preocupação de Lula não se limita ao nível do debate no momento e se estende a um eventual acirramento dos ânimos durante a campanha eleitoral. Ele já percebeu que o tom de FHC está acima, até mesmo, das críticas feitas por José Serra e Geraldo Alckmin, pré-candidatos do PSDB.

O presidente teme que o debate chegue a um nível de acusações personalizadas e rejeita a hipótese de chegar ao final da campanha com a pecha de desonesto. Na campanha de 1994, caciques de ambos os partidos fizeram um pacto para limitar os ataques políticos, o que se repetiu em 2002. Na última eleição, reafirmou-se que a campanha não seria movida a baixarias.

O problema agora é que a catedral da ética construída pelo PT trincou com o escândalo do mensalão. O antigo dogma de se colocar como mais ético que os outros partidos, agora foi adaptado para se dizer igual aos outros, o irrita os tucanos e dificulta a possibilidade de um novo pacto de não-agressão.