Título: Palocci retifica depoimento sobre avião
Autor: Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/02/2006, Nacional, p. A5

Ministro alega que foi impreciso ao ter utilizado o verbo alugar

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, enviou ontem uma carta à CPI dos Bingos na qual retifica o teor do depoimento que prestou à comissão no dia 26. Na ocasião, ele afirmou ter viajado num avião do empresário José Roberto Colnaghi alugado pelo PT. Na carta, o ministro alega que cometeu "uma imprecisão terminológica" por não ter se dado conta de que só poderia ter usado o verbo alugar caso o partido tivesse desembolsado algum dinheiro.

"Ao reafirmar que o PT disponibilizara um avião para meu transporte, recorri inadvertidamente à expressão 'alugou', sem me apegar à acepção estrita do termo", diz o ministro na carta.

No texto, Palocci assegura, ainda, que nem sequer conhece as condições e os detalhes da organização da viagem ida e volta, entre Brasília e Ribeirão Preto, que realizou em 23 de julho de 2003 para comparecer a um evento do partido.

"Utilizei os meios disponibilizados pelo PT para comparecer àquele evento", destacou.

O ministro apresentou as explicações um dia depois de a comissão ter decidido interpelá-lo para saber quem falava a verdade: ele, que atribuía ao PT o aluguel do avião, ou o empresário Colnaghi, que em carta à CPI afirma que a aeronave utilizada em suas atividades industriais "jamais foi locada a terceiros, nem foi cobrado qualquer reembolso por todos quantos nela já viajaram".

IRONIA

As explicações de Palocci contentaram os governistas, mas foram recebidas com ironia por senadores da oposição. "O assunto para mim está encerrado", defendeu o senador Tião Viana (PT-AC). Para o senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT), "a carta do ministro é a desmoralização da língua brasileira". Antero é autor de dois requerimentos que aguardam votação na comissão.

Um deles pede que o ministro confirme ou não o que disse no depoimento à comissão. O outro solicita à Comissão de Ética Pública, encarregada de analisar deslizes de servidores, cópia do processo sobre o vôo de Palocci no avião de Colnaghi.

No entender do líder do PFL, José Agripino (RN), as explicações do ministro pioram sua situação, pois levantam a suspeita de que a "gentileza" de Colnaghi pode ter sido retribuída de alguma forma pelo governo.

"É preciso que a gente tenha o mínimo de argúcia. Ninguém pediu uma carta ao senhor Colnaghi. Se não teve retribuição financeira, deve ter tido de outra ordem", argumentou.

O líder da minoria, senador José Jorge (PFL-PE), estranhou o fato de o partido ter intermediado a viagem, "quando é publico e notório que o empresário é amigo do ministro".

"Se o dono é amigo meu, eu consigo o avião, e não o PT, principalmente o PT regional", comparou o senador do PFL.

Ressalvou, porém, que ele próprio considera ser esta uma questão menor: "O que se quer saber é se o ministro disse ou não a verdade."