Título: Ex-assessora diz que PT maquiou contas em Londrina
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/02/2006, Nacional, p. A4

Soraya Garcia afirma que 80% dos recursos em 2004 eram de caixa 2

Em depoimento à CPI dos Bingos, a assessora financeira da campanha à reeleição do prefeito de Londrina, Nedson Micheletti, Soraya Garcia, acusou ontem o PT de esconder no caixa 2 mais de 80% dos recursos arrecadados na eleição de 2004. Ela disse que, dos R$ 6,5 milhões que contabilizou, o partido declarou à Justiça Eleitoral apenas R$ 1,228 milhão. Ela não apresentou provas, mas disse ter informações de que o delegado da Polícia Federal Sandro Viana dos Santos, hoje afastado do caso, dispõe de notas coletadas em uma operação de busca e apreensão que confirmariam irregularidades na campanha.

Além de petistas da cidade, a ex-assessora acusou nomes de peso do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva - como seu chefe de gabinete, Gilberto Carvalho, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. "Houve todo tipo de maquiagem possível", afirmou. "Minha chefia me mandava cometer ilícitos diretos. Estou aqui para dizer a verdade, doa ou não."

Depois de ser desqualificada pelos senadores petistas Tião Viana (AC) e Flávio Arns (PR), a ex-assessora chorou ao falar de sua decepção com o PT, ao qual era filiada. "Eu me filiei ao PT por paixão, acreditava mesmo no partido, achava que era o melhor partido do mundo", alegou.

Ela afirmou que as maiores doações eram de fora de Londrina, mas se disse incapaz de identificá-las - a não ser os R$ 400 mil que teriam sido enviados pela Itaipu Binacional. "Fora os 400 pilas que vieram de Itaipu, não sei de onde veio o dinheiro do caixa 2", afirmou. Soraya também acusou a multinacional Gtech de ter pago a locação de veículos utilizados pelos petistas e, por sua vez, obtido vantagem com um evento bancado por dinheiro do caixa 2 da campanha.

DELÚBIO

A ex-assessora financeira disse que seu relacionamento com o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares ocorreu quando, durante a campanha, recebeu 20 mil camisetas, acondicionadas em caixas com a marca da agência publicitária DNA, do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, tido como operador do esquema do mensalão. Segundo ela, tinham sido fabricadas pela Coteminas, da família do vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar.

Soraya disse que as camisetas, vermelhas com o nome do candidato Micheletti, deveriam ser distribuídas no dia da eleição. "Eu comecei uma disputa para obter notas fiscais porque a Justiça Eleitoral tinha ido lá antes (no comitê) e eu tinha de explicar", contou. Ela disse que, depois de ter falado várias vezes com a secretária de Delúbio, Solange, obteve finalmente uma nota fria, indicando que se tratava de 25 mil camisetas, 5 mil a mais do que o lote recebido.

REAÇÃO

Em nota, a assessoria da Itaipu Binacional rebateu a acusação de que teria enviado R$ 400 mil para o caixa 2 do PT de Londrina: "Não passa de denuncismo vazio e inconseqüente, que visa tão somente a satisfazer objetivos escusos." A Itaipu diz ainda que vai adotar medidas extrajudiciais ou judiciais para obter reparação pelos danos causados à imagem da empresa".

A Gtech, também em nota, sustenta que as afirmações de Soraya segundo as quais teria custeado a locação de carros para petistas e obtido vantagens com isso "são completamente inverídicas e infundadas". Segundo a nota, a empresa "nunca pagou nem recebeu favores" do partido.

Já o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, emitiu nota para negar que tenha sido responsável ou co-responsável pela área financeira da campanha eleitoral de Micheleti, apesar de tê-lo apoiado ativamente. "Nas investigações realizadas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público, nada foi encontrado que comprometesse meu nome. Reitero, portanto, que as acusações irresponsáveis envolvendo meu nome não encontram respaldo nos fatos e, por esse motivo, já tomei as providências judiciais cabíveis em relação à senhora Soraya Garcia.