Título: Para a Mittal, resistência à aquisição da Arcelor diminui
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Fonte: O Estado de São Paulo, 16/02/2006, Economia & Negócios, p. B14

Maior siderúrgica do mundo acha que acabará comprando a concorrente européia

O presidente da Mittal Steel, maior grupo siderúrgico do mundo, Lakshmi Mittal, disse ontem que está vencendo as resistências dos políticos europeus à sua proposta de compra do grupo rival Arcelor. Segundo o empresário, além dos políticos, também já houve conversas com cerca de 30% a 40% dos acionistas da Arcelor, e a receptividade à proposta de compra tem sido boa.

A Mittal ofereceu no final de janeiro 18,6 bilhões pelo controle da Arcelor. A proposta foi considerada hostil pelo conselho de administração da Arcelor, que recomendou sua rejeição. Mas como o controle da empresa é muito pulverizado ¿ o governo de Luxemburgo, maior acionista, tem apenas 5,6% das ações ¿, basta à Mittal convencer os acionistas de que a proposta é boa. Desde então, os dois grupos travam uma batalha para fazer valer sua posição entre os acionistas.

As palavras de Lakshmi Mittal dão a entender que ele está levando a melhor nessa disputa. Segundo o executivo, as conversas agora estão se voltando exclusivamente para o negócio em si, com os governos de Luxemburgo e da Bélgica indicando bancos que pudessem aconselhá-los no acordo.

Nos primeiros dias após a proposta, alguns políticos europeus, especialmente da França e Luxemburgo, mostraram-se abertamente contrários. Mittal disse à imprensa que achava ter persuadido os políticos a verem o processo industrial por trás do acordo, e eles estavam começando a ¿entender a lógica¿.

O executivo também anunciou ontem fortes quedas nos lucros do último trimestre e anual, após aquisições e o aumento no custo da matéria-prima. A empresa informou que os lucros no trimestre finalizado em dezembro foram de US$ 650 milhões, ante US$ 1,55 bilhão no mesmo período de 2004, enquanto o lucro para todo o ano caiu 28%, ficando em US$ 3,37 bilhões. A receita no quarto trimestre cresceu 14%, para US$ 7,1 bilhões. Para todo o ano, o aumento da receita foi de 27%, chegando a US$ 28,1 bilhões. Mas a Mittal e alguns analistas dizem que não é possível fazer uma comparação direta com os resultados de 2004, por causa das aquisições e reorganizações da empresa em 2005.

Para este ano, o presidente da Mittal espera que os preços do aço fiquem estáveis no primeiro semestre e aumentem no segundo ¿ no fim de 2005, houve uma virada para baixo. ¿Isso aumentará os lucros da Mittal em 2006¿, disse.

A companhia prevê que as operações cresçam no primeiro trimestre, com o aumento de 10% nos carregamentos, após a compra da Mittal Stell Kryviy Rih, da Ucrânia.

O presidente da empresa conta também com uma redução na produção e nas exportações chinesas por conta das restrições colocadas pelo governo chinês. A proposta da Mittal pela Arcelor foi feita em parte, segundo o executivo, pelo fato de a empresa acreditar que a Europa precisa de um setor de aço mais forte para competir com a China.

Uma fusão entre a Mittal e a Arcelor criaria uma empresa com valor de mercado de US$ 40 bilhões, e com capacidade de produção de mais de 100 milhões de toneladas por ano. A Arcelor, criada em 2002 com capital francês, luxemburguês, belga e espanhol, tem 94 mil funcionários ¿ 6 mil em Luxemburgo, onde é o maior empregador.

A Mittal reafirmou que não deverá ocorrer cortes de funcionários com o fechamento do acordo. A empresa espera que as negociações já apresentem novidades nas próximas duas semanas.