Título: TV digital: governo longe do consenso
Autor: Gerusa Marques
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/02/2006, Economia & Negócios, p. B7

Lula receberá relatórios separados com parecer de ministros e terá pouco tempo para definir padrão do País

Os nove ministros envolvidos na escolha do padrão de TV digital do Brasil não vão apresentar documento único sobre o assunto ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Como não há consenso sobre o melhor padrão e os benefícios da escolha, cada um vai elaborar um relatório com as considerações e recomendações específicas de cada área. Os relatórios serão entregues logo depois do carnaval e o presidente terá pouco mais de uma semana para anunciar a decisão, marcada para 10 de março.

O ministro das Comunicações, Hélio Costa, disse ontem, após reunião no Palácio do Planalto com dirigentes das emissoras de TV, que o governo continua trabalhando para fazer em setembro a primeira transmissão comercial da televisão digital no País.

Essa foi a última de uma série de reuniões promovidas pelo governo, em que foram ouvidos representantes dos três padrões de TV digital em estudo - europeu, japonês e americano -, da indústria de televisores e das empresas de telefonia.

Os encontros deixaram de fora representantes da sociedade civil que, segundo Costa, podem ainda ser ouvidos quando o governo prosseguir com as discussões sobre programação e o modelo de negócios. "Nada impede que nós venhamos a dar o primeiro passo decisivo, que é a escolha do sistema. Se nós não fizermos isso, nós não teremos TV digital", afirmou.

Os relatórios setoriais serão apresentados pelos Ministérios das Comunicações, da Casa Civil, da Fazenda, do Planejamento, do Desenvolvimento, da Ciência e Tecnologia, das Relações Exteriores, da Cultura e da Educação. Mas até lá o governo continuará negociando com os detentores dos três padrões.

Sem revelar o sistema a que se referiu, Costa sugeriu que a negociação com um dos três padrões está mais adiantada. "Há um entendimento de alto nível entre governos e empresas", afirmou.

Os ministros estão discutindo também a possibilidade de reduzir o Imposto de Importação de equipamentos de transmissão que serão usados na TV digital. Estimam-se os investimentos em US$ 10 bilhões nos próximos dez anos para fazer essa troca.

O governo estuda ainda financiar a compra de aparelhos conversores de sinais digitais em analógicos, que permitem ao telespectador continuar usando o mesmo aparelho receptor.

Os dirigentes das emissoras de TV aberta insistiram, no encontro de ontem, na necessidade de a TV digital no Brasil ter alta definição de imagens e sons. "O discurso da radiodifusão brasileira está bastante alinhado. Todos temos consciência de que, sem alta definição, o Brasil está fora desse jogo, não consegue competir", disse o presidente da Rede Bandeirantes, João Carlos Saad.

O presidente da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), Inácio Pizzani, foi mais explícito: "Nossa conclusão é que o sistema japonês é o sistema que interessa não só à radiodifusão, mas ao Brasil".