Título: Isentar estrangeiro é boa idéia, diz Malan
Autor: Rita Tavares
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/02/2006, Economia & Negócios, p. B4

Mas ex-ministro pede atenção aos detalhes do projeto

O ex-ministro da Fazenda Pedro Malan considera "uma boa idéia" a proposta do governo de isentar do Imposto de Renda o investimento estrangeiro em títulos públicos. Mas ele ressalvou ser preciso conhecer a legislação para uma avaliação definitiva. "O diabo está nos detalhes", comentou, durante entrevista à Rádio Eldorado, ontem.

Para o presidente do Conselho Administrativo do Unibanco, a proposta já foi adotada por outros países e tem como objetivo a redução gradual da parcela da dívida pública corrigida pela taxa de juro de curto prazo (Selic), alongando os vencimentos.

Indagado se a valorização do real ante o dólar poderia prejudicar a economia, Malan lembrou que a taxa de câmbio é conseqüência da situação das economias internacional e doméstica. O ex-ministro disse que o cenário internacional foi e é extraordinariamente favorável, o que permitiu ao Brasil ter superávits comerciais altos.

Mesmo apostando na queda do saldo comercial neste ano, Malan disse que o resultado continuará expressivo, o que implica forte entrada de dólares no País. Além do resultado comercial, ele citou a boa percepção dos investidores sobre o Brasil neste momento, reforçando a entrada de capital.

"Com o tempo, isso tende a ser resolvido, mas, no momento, as forças são de um excesso de dólares que leva a essa valorização do real", afirmou.

O ex-ministro no governo Fernando Henrique Cardoso elogiou o trabalho do ministro Antonio Palocci e sua equipe. Para ele, o fato de o governo Lula seguir a orientação econômica do antecessor não é razão de apreensão nem de lisonja.

"Cada governo tem de se comportar de maneira responsável na condução não só da política econômica, como em outras dimensões", disse. Malan acredita que se deve cobrar responsabilidade de qualquer governo na gestão da coisa pública. "O ministro Palocci e sua equipe vêm fazendo as coisas que têm de ser feitas. É uma das razões da superação dos receios que havia quando o PT dava sinais preocupantes".

LUCROS

Ao comentar o lucro médio de 40% do setor bancário em 2005, o ex-ministro disse que esse resultado reflete a "extraordinária expansão do crédito" ocorrida com o crescimento da economia e da oferta do crédito consignado. "Esses lucros têm a ver com isso, mas também com redução de custos e o aumento da produtividade (do setor)", ponderou.

Sobre as tarifas cobradas pelos bancos e a possibilidade de elas caírem em razão da alta lucratividade dessas instituições, Malan respondeu que é "um engano essa percepção de que não há competitividade" entre os bancos. "Não há conluio sobre taxas e tarifas. Há, sim, uma grande disputa pelos clientes", disse.