Título: Novos protestos no Paquistão deixam 3 mortos e 50 feridos
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/02/2006, Internacional, p. A13

Propriedades estrangeiras são atacadas em Peshawar e Lahore

Três paquistaneses morreram e mais de 50 ficaram feridos ontem nas cidades de Peshawar (noroeste) e Lahore (oeste), cenários da maior onda de protesto ocorrrida até agora no Paquistão contra a publicação por jornais europeus de caricaturas do profeta Maomé. Os incidentes mais graves ocorreram em Peshawar, onde o protesto reuniu 50 mil manifestantes. Ali morreram duas pessoas, um adulto e uma criança de 8 anos. Teriam sido baleados por policiais que atiraram para o ar a fim de conter a multidão. Irados participantes da marcha haviam incendiado uma lanchonete do grupo americano KFC, dois postos da empresa norueguesa de telefonia celular Telenor, agências bancárias, dois cinemas, um terminal rodoviário e vários ônibus. Um porta-voz da polícia negou responsabilidade dos agentes nas mortes, assegurando que havia arruaceiros armados no meio de multidão.

Em Lahore, onde ocorreram duas mortes na terça-feira, as manifestações prosseguiram ontem pelo segundo dia consecutivo. Um jovem de 18 anos morreu, aparentemente, no fogo cruzado durante um tiroteio entre estudantes da universidade local e policiais que tentavam conter a manifestação.

O governo paquistanês voltou a pedir calma à população. "Nossa indignação contra a profanação deve ser expressa de maneira pacífica e ordeira", disse um porta-voz do Ministério do Interior. "Não vamos tolerar distúrbios nem depredações", insistiu.

SOLIDARIEDADE

As charges de Maomé foram publicadas pela primeira vez em setembro na Dinamarca, pelo jornal Jyllands-Posten, e reproduzidas recentemente por vários jornais europeus, em nome da liberdade de imprensa - o que revoltou o mundo islâmico. A Dinamarca, principal alvo da onda de protesto, recebeu ontem a solidariedade de seus parceiros da União Européia. No entanto, líderes da comunidade européia destacaram que se torna absolutamente necessário um uso responsável da liberdade de imprensa.

Para Heinz Fischer, presidente da Áustria (país que exerce a presidência rotativa da UE), a imprensa européia deve se autodisciplinar, para evitar crises perigosas e desnecessárias.

No Parlamento Europeu, o deputado Daniel Cohn-Bendit, líder da bancada verde, e Karen Riis-Joergensen, líder dos liberais, pediram à Comissão Européia (órgão executivo da UE) que encoraje a mídia a adotar voluntariamente um código de conduta que evite ofender sensibilidades religiosas.

O presidente da CE, o português José Manuel Durão Barroso, prometeu estudar a proposta. Ele condenou as manifestações de violência que se alastram pelos países islâmicos. Criticou também o boicote de alguns desses países, entre os quais a Indonésia e Irã, a produtos de exportação dinamarqueses. Foi muito aplaudido quando disse que as restrições impostas a um país da comunidade atingiam todos os seus membros.

No Irã, palco de violentos manifestações, o Ministério das Relações Exteriores enviou ontem notas de protesto às embaixadas de 17 países europeus, condenando com veemência a republicação das caricaturas pela mídia européia. "A publicação desses desenhos que ignora os valores de mais de 1,5 bilhão de islâmicos contraria os princípios da democracia e da liberdade de expressão", diz o documento.