Título: PSDB derrapa na curva
Autor: Dora Kramer
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/02/2006, Nacional, p. A6

Oposição reage com insegurança e passa recibo de temor reverente a Lula

A reação do PSDB à pesquisa favorável ao presidente Luiz Inácio da Silva não poderia ser mais atrapalhada, desorganizada e contraproducente do ponto de vista de quem se pretende apto a disputar a Presidência da República enfrentando, com as armas da política, a candidatura detentora da máquina do Estado.

A pesquisa pode ter falhas, é até um dever apontá-las e, se possível, contestá-la cientificamente. Agora, sair aos berros denunciando uma fraude sem demonstrá-la por A mais B, ressaltando apenas seus pontos "esquisitos", parece choro de perdedor: denota insegurança, destempero e equivale a confessar que a agenda do partido obedecerá à pauta do adversário.

O último ponto ficou explícito nas declarações aflitas - entre elas, surpreendentemente, a do presidente do PSDB, Tasso Jereissati - sobre a necessidade de antecipar a escolha do candidato para dar voz e rosto ao anti-Lula o quanto antes.

Seria de se perguntar: antes do quê? E o quanto "antes"? Uma semana, duas que sejam, no que isso influirá no principal, a opção do eleitorado por aquele percebido como um melhor presidente?

Neste aspecto, abstraídas todas as trapaças de natureza publicitária, o governo joga muito melhor. Vai dando corda, o adversário vai se enrolando e, a continuar nessa batida, termina por se enforcar.

Lula repete dia sim e outro também que a pressa é senhora da oposição. Ele tem tempo até junho - e tem mesmo - para assumir a candidatura. Até lá vai preparando seu terreno, observando os movimentos do inimigo, provocando-o como convém à luta.

O nervosismo leva a oposição a pensar em fazer o oposto: atropelar prazos e render homenagens à imperfeição, acreditando que a existência de um contendor nitidamente identificado pela população será por si só capaz de mudar uma situação, ignorando que está em jogo uma disputa de valores pessoais, morais, políticos e administrativos. Quem transmitir os melhores, vencerá.

Se a pesquisa é falsa, não há razão para alterar os planos. Se não é, a acusação apressada iguala os tucanos às ações mais criticadas no PT: o combate pela via da desmoralização do outro em detrimento da própria qualificação.

A dinâmica da barulheira também cria semelhanças, e perde, porque em matéria de substituição do vazio de conteúdo pela exuberância na forma o PT é catedrático com larga experiência no ramo.

Bem verdade que os dois pré-candidatos, Geraldo Alckmin e José Serra, não seguiram a toada de seus correligionários. Nem eles nem vários outros deputados e senadores que preferiram a contenção à estridência.

Como os estridentes é que são ouvidos, acabam dando o tom e mais: ao agir em desacordo com outra parcela do partido, expõem no comando falta grave no quesito ordem unida.