Título: Dimas esteve com Jefferson, mas nega lista
Autor: Eugênia Lopes, Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/02/2006, Nacional, p. A4

Ex-diretor de Furnas diz ter pedido que funcionário de carreira assumisse cargo e nega oferta de dinheiro

Em depoimento à CPI dos Correios ontem, o ex-diretor de Furnas Dimas Toledo negou ser autor da lista de 156 políticos que teriam recebido recursos de caixa 2 para campanhas eleitorais em 2002. Dimas disse ter se encontrado uma única vez com o então deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), na noite de 13 para 14 de abril de 2005, para pedir que um funcionário de carreira de Furnas o substituísse na diretoria de Planejamento.

"Quero negar veementemente qualquer participação na elaboração dessa lista. Trata-se de uma montagem, de uma falsificação. Nunca ajudei financeiramente nenhum parlamentar ou pessoas nominadas nessa lista", afirmou Dimas. "A lista é totalmente absurda."

Ele contou que foi à casa de Jefferson depois das notícias de que seu cargo seria entregue a um indicado do PTB. "Fui tentar convencê-lo de que a minha substituição fosse feita por um funcionário da casa e não ninguém de fora", explicou. Segundo Dimas, Jefferson teria dito que proporia ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva mantê-lo no cargo. "Gostei de você e vou levar proposta ao presidente para você continuar."

No depoimento, o ex-diretor negou também que tenha oferecido dinheiro - R$ 1,5 milhão mensais ao PTB, na época presidido por Jefferson - em troca de sua permanência no cargo. Afirmou ainda que não deu R$ 75 mil para Jefferson, conforme afirmou o ex-deputado em depoimento à Polícia Federal.

Protegido por habeas-corpus dado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que permitia que ficasse calado, Dimas repetiu ontem na CPI o depoimento que deu sexta-feira à PF no Rio. Novamente, garantiu que não conhece o lobista mineiro Nilton Monteiro, que teria sido o responsável pela distribuição da lista de 156 políticos. "Nunca vi esse Nilton. Não conheço." Segundo o ex-diretor, em fevereiro ou março de 2004 Monteiro lhe telefonou "três ou quatro vezes" e ameaçou sua secretaria, dizendo que era do PT e ia pedir a Lula sua demissão, caso ele não atendesse suas ligações.

Antes do início do depoimento, o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), desqualificou Monteiro, dizendo que ele responde na Justiça a processos por estelionato, roubo de documentos, formação de quadrilha, corrupção e falsificação. "O Monteiro usou até o nome de seu falecido pai para receber a aposentadoria dele."

Dimas disse que assumiu a Diretoria de Engenharia de Furnas em 95, primeiro ano do governo Fernando Henrique. "Não tenho conhecimento se teve indicação política." No governo Lula foi convidado a continuar no cargo a pedido da então ministra das Minas e Energia, Dilma Rousseff. "Não pedi a ninguém para ficar no cargo, mas não sei se houve algum pedido."

Explicou que alguns cargos em estatais são preenchidos por indicações de partidos. "Mas não entendo que haja interesse em financiar desvio de dinheiro e sim interesse de fazer política, de implementar o programa dos partidos", argumentou.

EMPRESAS

Assim como na PF, o ex-diretor afirmou que algumas empresas que aparecem na lista como doadoras para políticos não têm relação com Furnas. É o caso, explicou, da DNA Propaganda (da qual Marcos Valério Fernandes de Souza é sócio), da Companhia Vale do Rio Doce, da Carioca Engenharia e da Mendes Júnior, entre outras.

Ele também contou à CPI que conhece o ex-secretário-geral do PT Sílvio Pereira e recorria a ele toda vez que tinha "problemas institucionais". Sílvio foi afastado do PT depois de admitir que recebeu de presente um Land Rover de uma empresa prestadora de serviços à Petrobrás. "Nunca conversei com Sílvio sobre contratos ou serviços de empreiteiras para Furnas. A última vez que falei com ele foi no início de 2005", relatou. Dimas disse ter perguntado ao então dirigente petista se ele seria substituído em Furnas. Sílvio teria dito que não sabia.