Título: Taxas sobre passagens aéreas só recebem adesão de 13 países
Autor: Reali Júnior
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/03/2006, Economia & Negócios, p. B5

Resultado imediato decepciona brasileiros e franceses, os autores da proposta

Apenas 13 países adotaram a cobrança de taxa sobre tarifas aéreas para financiar a luta contra a pobreza no mundo, anunciou o ministro do Exterior francês, Phillippe Douste Blazy, no encerramento da Conferência de Paris, ontem. Blazy, porém, tentou reduzir a decepção afirmando que outros países devem aderir.

Estima-se que numa primeira fase serão arrecadados entre 300 milhões e 400 milhões - 200 milhões da França, que pretende associar essa iniciativa à criação de uma central de compra de medicamentos, uma forma de criar condições efetivas para o combate de tuberculose, malária e aids, pandemias que atingem seis milhões de pessoas no mundo e que exigirão US$ 23,7 bilhões para serem combatidas, segundo organizações internacionais.

Além de França e Brasil, Chile e Reino Unido estão entre os treze. Índia, Alemanha, Espanha e Bélgica apenas se declaram interessados. Outros 40 países participam do grupo piloto que vai coordenar, sob a presidência do Brasil e, posteriormente, da Noruega, a Facilidade Internacional de Compra de Medicamentos, Fiam.

Para o ministro Celso Amorim, o êxito dessa conferência não deve ser medido pelo número de países que se associaram imediatamente à decisão, mas "a um sonho que começa a se tornar realidade". Ele reconhece as diferenças de opinião sobre as taxações, mas lembra que todos admitem que "os ricos estão cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres".

O grupo piloto deverá se reunir em maio, no Brasil, para que tudo esteja pronto para a Assembléia das Nações Unidas, em junho, em Nova Iorque, consagrada à luta contra aids. A França está disposta a aplicar 100 milhões no programa da central de medicamentos. Os britânicos vão lutar pelo programa de vacinação.

RESPOSTA

Ontem, o ministro Celso Amorim fez questão de responder as criticas da Iata à iniciativa de cobrança da taxa sobre as passagens aéreas, dizendo que "a direção da Iata tem uma visão estreita do problema", pois nenhum brasileiro que vai a passeio para a Europa reagirá de forma negativa à cobrança de US$ 2 a mais, se for para ajudar a erradicar doenças como aids , tuberculose e malária.

Ele explicou também que EUA e Canadá têm o direito de buscar outras formas de financiar o desenvolvimento. Lembrou que se os laboratórios europeus aceitarem fabricar remédios mais baratos, os genéricos por exemplo, provavelmente serão acompanhados pelos americanos, Para Amorim, os obstáculos técnicos, aparentemente insuperáveis, podem contornadas por iniciativas políticas.

É preciso, afirma o chanceler brasileiro, haver coerência entre o plano interno e o internacional: "Essa conferência marca a vitória da vontade política sobre as dificuldades técnicas."