Título: Ricos pedem ao Brasil que abra setor de serviços a estrangeiros
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/03/2006, Economia & Negócios, p. B3

País argumenta que já liberou boa parte do setor ao investidor externo

O Brasil recebeu pedidos ontem para reabrir 13 setores da economia ao investimento estrangeiro. Os países ricos, liderados pelos Estados Unidos e Europa, enviaram à Organização Mundial do Comércio (OMC) uma lista de solicitações para que o País faça concessões na área de serviços na atual negociação da Rodada Doha. China, Índia, África do Sul e Tailândia receberam pedidos semelhantes.

Os governos querem que o Brasil dê maiores facilidades para que empresas dos países ricos possam atuar em áreas como energia, serviços de meio ambiente, serviços financeiros, telecomunicações, construção, informática, arquitetura e engenharia, transporte marítimo, serviços de distribuição e de correios, educação, serviços audiovisuais e serviços legais. O Brasil alega que já é aberto em grande parte desses setores e a prova seriam os investimentos recebidos nos últimos anos em telecomunicações e a entrada de bancos estrangeiros.

Mas para alguns governos, como os europeus, sem essas concessões o Brasil e outros emergentes não terão muita chance de conseguir maior liberalização do comércio agrícola. A principal reivindicação dos ricos é para que o governo brasileiro retire todo tipo de restrição aos investidores. Mas eles também querem maior liberdade para estabelecer suas empresas no mercado brasileiro, autorização para prestar serviços pela internet e flexibilidade nas leis sobre concorrência.

Apesar de os pedidos estarem sendo liderados pelos americanos e europeus, canadenses, noruegueses, japoneses e neozelandeses também querem o fim dessas restrições. Entre os países em desenvolvimento, apenas dois aderiram às reivindicações feitas a Brasília: o Chile e o México, que querem a abertura do mercado nacional para informática, construção e transporte marítimos.

Para os EUA, uma abertura nesses setores ampliará o desenvolvimento da economia brasileira e gerará, para o comércio mundial, um incremento de US$ 1,4 trilhão, se todos os mercados emergentes e ricos se abrirem completamente. Mas diplomatas lembram que se a proposta fosse tão benéfica para os países pobres, teria sido apoiada pelas economias em desenvolvimento, o que não foi o caso. A adesão de Chile e México, segundo analistas, só ocorreu porque esses países já fizeram todas essas concessões nas negociações bilaterais com europeus e americanos.

Na realidade, o interesse por essa abertura do mercado pode ser explicado pelo próprio papel do setor para a economia americana. De cada 10 empregos nos Estados Unidos, 8 estão no setor de serviços, um dos poucos que geram um superávit (US$ 56 bilhões) por ano ao comércio exterior americano.

O pedido dos ricos já era aguardado. De acordo com o entendimento fechado na conferência ministerial da OMC em Hong Kong, em 2005, os países fariam a solicitação até ontem. Agora, o Brasil e os demais emergentes vão analisar as propostas e apresentar seus próprios pedidos. É possível que o País peça maior facilidade para que brasileiros possam conseguir vistos temporários para trabalhar no exterior.