Título: Gasolina é melhor para flex
Autor: José Maria Tomazela
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/03/2006, Economia & Negócios, p. B1

Preço do álcool mexe com frota de 1,5 milhão de carros

O preço do álcool hidratado disparou ontem em São Paulo e atingiu, em alguns postos, o valor de R$ 1,99 por litro. A forte alta do preço havia sido antecipada pelo Estado na segunda-feira, quando a Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e Lubrificantes (Fecombustíveis) informou que as distribuidoras repassariam aos postos aumento de R$ 0,17 por litro. O repasse foi ainda maior: atingiu até R$ 0,20 por litro.

Com este preço, o 1,5 milhão de consumidores que possuem carros com motores bicombustíveis tendem a abandonar o álcool e passar a abastecer o veículo com gasolina. Os donos de carros a álcool é que devem sofrer mais com o aumento - eles são 1,48 milhão. Segundo especialistas, a vantagem de custo com o uso do álcool foi anulada com o novo reajuste. O consumidor obtém economia se o preço do álcool não superar o limite de 70% do valor cobrado pelo litro de gasolina.

Os revendedores resolveram não segurar os repasses. No Posto Henrique Schaumann, no bairro de Pinheiros, São Paulo, o gerente Edvaldo Bezerra mudou ontem os preços. A distribuidora entregou álcool a R$ 1,74 o litro, aumento de R$ 0,20. O preço ao consumidor passou de R$ 1,799 para R$ 1,999. "Decidimos não abrir mão da margem. Acho que todos os postos tomaram esta decisão", disse.

Segundo o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo de São Paulo (Sincopetro), José Alberto Gouveia, os revendedores começaram ontem a receber o produto a R$ 1,71 o litro. "Contando com uma margem de revenda entre R$ 0,25 e R$ 0,30 por litro, o preço está muito próximo dos R$ 2", calculou.

MISTURA

No primeiro dia de vigência da nova mistura de gasolina, agora com apenas 20% de álcool anidro, os postos também começaram a receber o combustível com novos preços. Gouveia disse que o litro deverá subir até R$ 0,09 na bomba. De acordo com o vice-presidente-executivo do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e Lubrificantes (Sindicom), Alísio Vaz, a alta no preço da gasolina é provocada, principalmente, pelo aumento da carga tributária sobre o combustível.

Ele disse que como os impostos sobre a gasolina são maiores, o aumento do porcentual deste na mistura vendida nos postos amplia a carga tributária. Segundo cálculos do Sindicom, o governo federal terá um adicional de R$ 54 milhões por mês em arrecadação com Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) sobre a gasolina. Até agora, não houve sinalização de que a alíquota será reduzida.

Gil Siuffo, presidente da Fecombustíveis, disse que o preço da gasolina não deveria subir em razão da queda da mistura de álcool. "Não faz sentido o governo tributar esses 5% a mais de gasolina. O governo não perderá um único centavo. Se tributar, vai elevar a carga tributária", criticou.