Título: Bush chega à Índia sem acordo
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Fonte: O Estado de São Paulo, 02/03/2006, Internacional, p. A12

Persistem as divergências sobre cooperação nuclear para geração de energia elétrica, principal motivo da visita

NOVA DÉLHI

O presidente americano, George W. Bush, chegou ontem à capital indiana sem fechar o acordo de cooperação nuclear com o governo indiano, principal razão de sua visita de 48 horas à Índia. Acompanhado da primeira-dama Laura e da secretária de Estado, Condoleezza Rice, o presidente americano foi recebido no Aeroporto de Palam pelo primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh.

Durante escala no Afeganistão (ler ao lado), Bush admitiu que a questão da cooperação no campo nuclear é um tema difícil para ambos os governos. "Estamos dialogando e trabalhando e esperamos chegar a um acordo", disse. Singh, por sua vez, acredita na superação dos obstáculos que travam o entendimento completo, que daria à Índia acesso a tecnologia nuclear estrangeira pela primeira vez em 30 anos.

Para continuar a crescer no ritmo atual, a Índia precisará de muito mais energia. O desejo de reativar a indústria americana de geração nuclear de eletricidade levou Bush a oferecer a Singh no ano passado acesso a tecnologia e a combustível nuclear. O presidente americano pediu em troca ao líder indiano a separação do programa nuclear militar das atividades civis, que passariam a receber inspeções mais rígidas da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), o órgão da ONU. Ocorre que os dois lados têm interpretações diferentes do que ficou decidido. A proposta indiana inclui no programa civil apenas 4 dos 17 reatores do país. Os EUA rejeitam. Querem que a Índia amplie o número de reatores para programas pacíficos. "Queremos impedir que a tecnologia e o material nuclear que a Índia receba com base nesse acordo se destine à produção de armas e, com isso, desencadeie outra corrida armamentista nuclear com o Paquistão", explicou ontem Condoleezza Rice. A Índia não é signatária do Tratado de Não-Proliferação Nuclear.

Na chegada de Bush a Nova Délhi, mais de 70 mil agentes de segurança vigiavam atentamente uma multidão de muçulmanos, estimada em 50 mil pessoas, que fazia ruidosa manifestação de protesto contra a visita do líder americano ao país: "Morte a Bush", gritavam eles. Novos protestos foram programados pelos sindicatos e partidos esquerdistas para hoje, quando começam os compromissos oficiais de Bush no país.