Título: EUA mudam peso de sua diplomacia
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Fonte: O Estado de São Paulo, 02/03/2006, Internacional, p. A11

Alterações demográficas, econômicas e políticas fazem Washington reforçar presença na China, Índia e América Latina

Os Estad os Unidos enviarão mais 15 diplomatas para a China, mais 15 para a América Latina e mais 12 para a Índia. O remanejamento diplomático é parte de uma grande reformulação na política externa americana com vistas às próximas décadas.

As Embaixadas dos Estados Unidos na Europa, por outro lado, perderão 38 diplomatas, inclusive um na Grã-Bretanha, o que mostra que as linhas de frente econômicas, políticas e religiosas estão mudando de lugar.

Condoleezza Rice, a secretária de Estado americana, que está acompanhando George Bush na visita à Índia, Paquistão e Afeganistão iniciada ontem, já havia anunciado em janeiro que centenas de diplomatas seriam remanejados de seus postos na Europa e em Washington para representações na Ásia, Oriente Médio e África.

A alteração no peso da diplomacia de Washington ocorre em conseqüência de um relatório do Pentágono do mês passado que vislumbra uma "longa guerra" contra o terrorismo internacional na qual será necessário um importante esforço de propaganda política para conquistar corações e mentes no mundo muçulmano.

A agência de notícias Associated Press conseguiu uma lista das principais mudanças propostas. Os novos postos indicam os países identificados por Washington como rivais ou parceiros econômicos e políticos, como a China e a Índia, assim como possíveis pontos de ignição de conflitos.

Os cargos existentes mostram a importância que os países da Europa tiveram para os Estados Unidos durante a guerra fria. Os cargos na Europa eram também considerados pelos diplomatas americanos como postos relativamente tranqüilos, com exceção daqueles baseados na Rússia e Europa Oriental antes da histórica queda do Muro de Berlim, em 1989.

A lista do Departamento de Estado mostra que a maior redução no mundo inteiro será na Rússia, onde a Embaixada dos Estados Unidos cortará dez cargos. A Alemanha perderá sete, e países como Bélgica, Polônia, Itália e Espanha perderão dois ou três diplomatas cada.

O aumento no número de diplomatas na China é um reconhecimento por parte de Washington não somente da importância, mas também da possível ameaça militar aos interesses dos Estados Unidos nos países do Pacífico e outros pontos da Ásia e o perigo representado pelas questões de território não resolvidas, como é o caso de Taiwan.

A outra prioridade dos Estados Unidos é a Índia, no mínimo como um contraponto à China. As relações entre os Estados Unidos e a Índia têm sido freqüentemente tensas desde que a Índia se tornou independente da Grã-Bretanha, em 1947, pois a Índia é a líder do Movimento dos Não-Alinhados e freqüentemente está muito mais próxima de Moscou que de Washington.

Na Índia, Bush e Condoleezza descobrirão que continua existindo uma forte oposição de esquerda aos Estados Unidos na coalizão de governo e também entre a população. Milhares de manifestantes se reuniram em Mumbai levando cartazes onde se lia "Diabo Bush, vá embora".

Robert Pearson, que se aposentou segunda-feira do cargo de diretor-geral do serviço de Relações Exteriores dos EUA depois de 30 anos de carreira diplomática, disse à AP que a demografia foi o elemento preponderante na maioria das transferências de pessoal. E acrescentou que as populações da América do Norte e da Europa juntas serão não mais de 10% da população mundial em meados do século. "Podemos perceber que a escala da mudança e o ritmo da mudança estão ag ora num outro grupo de 15 a 25 países, que estão no processo de tentar atingir o nível das modernas democracias industrializadas", disse Pearson.